Folha de S.Paulo

Na turnê que Brasil não viu, artista se mostra madura

- RODRIGO SALEM

FOLHA,

“Me chamem de Joanne”, pede Lady Gaga às 17 mil pessoas que lotaram o The Forum, clássica casa de shows em Los Angeles.

Ela nem precisaria pedir. Grande parte dos “monstrinho­s”, como são conhecidos os fãs da popstar, já sabe quem é a nova personagem.

Joanne batiza o tour que Gaga deveria ter trazido ao Brasil, em apresentaç­ão única no dia 15, no Rock in Rio.

A personagem é encarnada pela cantora desde o ano passado, quando excursiono­u tocando em alguns bares menores, interpreta­ndo esse papel, uma mescla de Dolly Parton e Madonna.

Mas é assim que ela aparece para cantar “Diamond Heart” e “A-Yo”, de chapéu de caubói coberto por purpurina e um casaco de franjas que esconde um maiô roxo —e, depois de guitarra na mão.

A fantasia já cai na terceira música, quando entra o hit “Poker Face”.

Country rock ou pop? A dualidade permeia e define toda a apresentaç­ão da diva durante os sete atos de uma apresentaç­ão de duas horas.

É uma Lady Gaga que luta contra o monstro que criou, uma artista que bebeu do niilismo do excesso pop no início de carreira, mas que sabe cantar. E muito. Não é uma tarefa fácil. Tanto que existe uma preocupaçã­o de minimizar os efeitos especiais em torno da “Joanne Tour” e de mesclar sucessos como “Telephone” e “Alejandro” (numa versão reduzida) com canções novas de menor impacto visual, como “John Wayne”.

Os palcos são simples na sua mecânica de plataforma­s móveis e ganham mais impacto quando são utilizados para levar a cantora durante “Applause” para a plataforma menor, que fica no outro extremo da arena, apenas com seu piano transparen­te (e luzes internas, claro).

Nesse momento, solitária e mais perto dos fãs, Lady Gaga parece transcende­r seu papel de popstar.

Em “Come to Mama”, ela discursa sobre o movimento LGBT e diversidad­e, dedicando a música ao produtor Mark Ronson.

Ainda ao piano para “The Edge of Glory”, a cantora entra no modo Faustão: dedica a canção à família presente, lembra que o pai faz aniversári­o e presta uma homenagem a um amigo que perdeu a mulher.

Funciona; a apresentaç­ão ganha humanidade e despojamen­to, qualidades perdidas em shows pop.

Sim, Lady Gaga toca seus hits, se veste de baronesa do sangue em “Bloody Mary”, emula Ziggy Stardust em “Just Dance” e evoca a “prostituta dentro de mim” em “Born This Way” (quando retorna ao palco principal). No entanto parece menos confortáve­l no papel de líder de coreografi­a.

É possível pensar que a cantora ainda enxugaria alguns excessos para a aparição no evento carioca, deixando a apresentaç­ão mais orgânica e natural.

Nessa nova turnê, Gaga prova que deseja amadurecer como outras popstars não conseguira­m.

“Joanne” é claramente uma transição. Se ela virá ao Brasil, ainda não se sabe. Mas, quando Gaga pisar no país, possivelme­nte terá se tornado uma artista bem diferente da atual. AVALIAÇÃO bom

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