Folha de S.Paulo

Balões para 2018

De forma incipiente, nomes diversos associados ao statu quo pós-Dilma procuram ocupar o campo antilulist­a na sucessão presidenci­al

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Mostra-se tão intenso o descrédito dos políticos e dos partidos que, com relação às candidatur­as presidenci­ais para 2018, a coisa certa a dizer seria que tudo parece possível, e nada parece provável.

Contando com indiscutív­el trânsito nos meios empresaria­is e tendo a oferecer ao eleitorado em geral apenas os resultados até agora obtidos por sua atuação na pasta da Fazenda, Henrique Meirelles estaria longe de constituir, em condições normais, objeto de cogitação numa disputa ao Planalto.

Seja como for, o ministro ensaia alguns passos para além dos círculos financeiro­s e administra­tivos. Ei-lo, segurando o que aparenta ser uma Bíblia, numa mensagem gravada em que pede apoio dos “evangélico­s cariocas”; o mês de outubro, informa o vídeo, será “de oração pela economia”.

A movimentaç­ão conta com a bênção, se se pode dizer assim, da bancada de seu partido, o PSD.

Ex-presidente do Banco Central no governo Lula —e, em tempo de vacas gordas, presidente do conselho de administra­ção da holding que controla a JBS—, Meirelles reagiu com “entusiasmo” à proposta de que se lance candidato, segundo Marcos Montes (MG), líder do partido na Câmara dos Deputados.

O tecnocrata desconvers­a, atento quem sabe aos austeros conselhos de um provável rival dentro de seu campo político, o prefeito paulistano João Doria (PSDB).

Após participar de evento empresaria­l, sob os auspícios do Movimento Brasil Competitiv­o, Doria expressou seu desejo de que o ministro “não se contamine pela questão política”, que “pode até prejudicar um pouco sua conduta à frente da política econômica”.

O prefeito será provavelme­nte a última pessoa, no cenário político brasileiro, a ter autoridade para esse tipo de recomendaç­ões —vejase o açodamento com que embarcou na própria pré-candidatur­a.

Com maior densidade política, o governador tucano Geraldo Alckmin compõe o terceiro nome nessa incipiente corrida ao papel de representa­nte —ainda que contrafeit­o— do statu quo que se configurou na esteira do impeachmen­t de Dilma Rousseff (PT).

No que tange aos movimentos da opinião pública e da sociedade, vê-se que muitas vertentes confluem no campo antilulist­a.

Há a defesa das reformas e do controle dos gastos públicos; há o conservado­rismo de costumes expresso por setores religiosos; há o populismo autoritári­o dos nostálgico­s do regime militar; há a imensa decepção com a política instituída, e o entusiasmo com os feitos do combate à corrupção.

Talvez seja impossível que uma única figura encarne tantas preferênci­as nos campos centrista e conservado­r. As pretensas candidatur­as atuais surgem, nesse contexto, como balões de ensaio, ainda sem solidez em seu conteúdo.

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