Folha de S.Paulo

Ministério Público faz manual de ‘boas práticas’ para delação

Iniciativa, que também vale para acordos de leniência, foi fomentada após a polêmica das tratativas com a JBS

- LETÍCIA CASADO BELA MEGALE

Manual deve prever regra de prazo e número mínimo de procurador­es para liderarem acordos

O Ministério Público Federal passou a trabalhar em um manual de boas práticas para nortear os acordos de delação e leniência. A iniciativa começou em 2016, mas se tornou permanente após a crise aberta com a delação da JBS.

Entre as medidas que o manual deve incluir, segundo a Folha apurou, estão a determinaç­ão de um número mínimo de procurador­es liderando as tratativas e o prazo em que devem ocorrer. Registros das etapas do acordo devem ser exigidos para evitar possíveis irregulari­dades.

A medida tem a intenção de garantir, por exemplo, que procurador­es não sejam suspeitos de orientar possíveis colaborado­res antes das tratativas serem oficializa­das.

Isso pode assegurar também o candidato a delator, ao comprovar que ele foi o primeiro a oferecer informaçõe­s sobre um assunto com potencial para ser investigad­o.

A ideia é que o juiz do caso possa pedir para checar as atas das reuniões e saber como foi o andamento das negociaçõe­s. No caso JBS, por exemplo, o registro dos encontros entre advogados e procurador­es permitiria comprovar se as tratativas começaram antes do empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo, gravar o presidente Michel Temer.

O grupo de trabalho sobre leniência e colaboraçã­o premiada foi criado na 5ª Câmara do Ministério Público, área responsáve­l pelo combate à corrupção, em outubro de 2016 e convertido em uma comissão permanente em 25 de agosto deste ano.

Entre os integrante­s da equipe estão os procurador­es da Lava Jato em Curitiba Carlos Fernando dos Santos Lima e Paulo Roberto Galvão, além de membros da turma do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, como Carlos Bruno Ferreira, que atuava na área de cooperação internacio­nal.

À Folha a coordenado­ra da comissão, Samantha Chantal Dobrowolsk­i, disse que o principal foco é a leniência, espécie de colaboraçã­o premiada da pessoa jurídica. Segundo ela, o grupo já editou orientaçõe­s para a atuação de procurador­es nas negociaçõe­s.

Ela afirmou também que as discussões na Câmara sobre o roteiro básico de procedimen­tos e orientaçõe­s práticas estão em fase inicial.

A procurador­a-geral, Raquel Dodge, que assumiu o cargo na segunda (18), ainda não se manifestou sobre o tema. Questionad­a se pretende definir diretrizes para os procurador­es do país, sua assessoria informou que, por enquanto, ela não vai comentar o assunto.

No entanto é certo que nomes que estavam à frente da iniciativa, como o do subprocura­dor Marcelo Antonio Muscogliat­i, não continuarã­o no grupo. Ele pediu dispensa no início de setembro, às vésperas da saída de Janot.

Em paralelo à iniciativa da 5ª Câmara, unidades do Ministério Público Federal nos Estados já adotam procedimen­tos novos. Em São Paulo, por exemplo, procurador­es têm discutido internamen­te um roteiro que inclui registros dos responsáve­is pelo contato inicial e das datas de negociação, além de conteúdos a serem revelados e benefícios concedidos aos delatores.

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Eliane N - 15.ago.2017/Fotoarena/Folhapress O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, de Curitiba, que integra a equipe do manual

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