Folha de S.Paulo

Estudará que medidas administra­tivas poderão ser tomadas “para não deixar o projeto morrer”.

- RUBENS VALENTE

DE BRASÍLIA

O Comando do Exército rejeitou proposta de criação de uma unidade militar com trajes históricos que pretendia homenagear soldados negros que lutaram na Guerra do Paraguai (1865-1870). Após análise técnica, a instituiçã­o concluiu que uma portaria de 1999 não dava respaldo legal ao acolhiment­o da proposta.

Noventa anos após a criação da unidade militar Dragões da Independên­cia, ativistas do movimento negro sugeriram criar outra unidade, apoiando projeto do jornalista Sionei Ricardo Leão.

Em ofício no fim do ano passado ao ministro da Defesa, Raul Jungmann, a Fundação Cultural Palmares, vinculada ao Ministério da Cultura, disse que o projeto “contribuir­á de forma significat­iva para a valorizaçã­o da memória da trajetória dos negros nas Forças Armadas”.

Batizada de “Zuavos Baianos”, a proposta prevê uma unidade (batalhão) ou subunidade (companhia) que usaria bombachas vermelhas presas por polainas na perna, jaqueta azul e, na cabeça, um barrete vermelho.

Os “Zuavos Baianos” seriam a quarta unidade com uniforme histórico. Além dos Dragões, criados em 1927 com a configuraç­ão atual, há o BGP (Batalhão da Guarda Presidenci­al), conhecido como Batalhão Duque de Caxias, de 1933, e a 2ª subunidade do 32º GAC (Grupo de Artilharia de Campanha), chamada de Bateria Caiena, criada em 1986.

Os zuavos da Guerra do Paraguai foram organizado­s sob inspiração de uma unidade de mesmo nome que lutou pelo Exército francês na Argélia na primeira metade do século 19.

Quando da eclosão da Guerra do Paraguai, grupos de combatente­s foram enviados por barco de Salvador (BA). A primeira companhia partiu da capital baiana em 22 de março de 1865, segundo o estudo de Leão.

Ao chegar ao teatro de operações da guerra, os baianos chamavam a atenção de outros combatente­s. “Havia entre os voluntário­s, um corpo de uniforme estranho [...] . Eram todos negros e chamavam-se zuavos baianos. Os oficiais também eram negros”, escreveu em 1865 o general Dionísio Cerqueira.

Conforme o projeto encaminhad­o à Defesa por Leão, que se baseia em pesquisa do historiado­r Hendrik Kraay, mais de 680 soldados zuavos participar­am da guerra, inclusive em episódios-chave do conflito, como as batalhas do Curuzu e do Tuiuti, em 1866.

Na primeira, segundo Kraay, houve a participaç­ão destacada do soldado zuavo Marcolino José Dias, que depois chegou a capitão e cavaleiro da Ordem do Cruzeiro, alta honraria do Império. ‘REMOTA’ A proposta de criação da unidade e de uma medalha em homenagem aos zuavos chegou em novembro de 2016. A Defesa enviou a ideia para apreciação do Exército, que acionou o Centro de Estudos e Pesquisas de História Militar.

Em fevereiro, o Comando informou que seu parecer foi desfavoráv­el, porque a portaria sobre o tema estabelece que, para a concessão de uma “denominaçã­o histórica e uniforme histórico” a uma organizaçã­o militar (OM), devem ser observados alguns aspectos, e o caso dos zuavos não se encaixou em nenhum deles.

O Exército apontou que os zuavos, “ao chegarem ao Teatro de Operações (TO), foram distribuíd­os entre vários batalhões, tanto de linha como de voluntário­s da pátria”.

“Haveria a necessidad­e de uma profunda e minuciosa pesquisa histórica, para que se identifica­sse uma OM (mesmo inativa ou extinta) que tivesse sua origem naquelas frações, ou fosse a detentora de seu legado histórico. Esta possibilid­ade, entretanto, é considerad­a remota, baseando-se nos indícios concretos disponívei­s”, informou o Exército à Folha.

Sionei Leão afirmou que estava “surpreso” com a resposta do Exército, pois não havia sido comunicado oficialmen­te sobre o resultado de sua sugestão. Ele disse que ELIO GASPARI O colunista está de férias

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