Folha de S.Paulo

Documentár­io mostra dificuldad­e de readaptaçã­o de mulheres à comunidade

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COLABORAÇíO PARA A FOLHA, EM GAMBAGA (GANA)

A readaptaçã­o no lar que acolhe mulheres acusadas de bruxaria em Gambaga, norte de Gana, é o mote de “Witches of Gambaga” (2010), filme da diretora ganense Yaba Badoe ganhador do prêmio de melhor documentár­io no Black Internatio­nal Film Festival, do Reino Unido.

“Soube que deveria contar a história dessas mulheres quando visitei o acampament­o pela primeira vez, em 1995. As pessoas precisam saber dos regimes de gênero que ainda moldam a vida na África. Só assim podemos educar e acabar com crenças que demonizam as mulheres”, diz.

O documentár­io também retrata casos em que as vítimas não são aceitas de volta pela família. Em outros, elas mesmas não querem voltar, sobretudo se foram muito maltratada­s ou humilhadas.

Zenabu preferiu recomeçar a vida no acampament­o desde que ali chegou, em 2008.

“Aqui é minha casa. Quero morrer aqui”, diz ela, que recebe periodicam­ente a visita de seu filho mais novo, de 14 anos. Ela é a atual líder do refúgio —a única que pode falar diretament­e com o chefe e organiza as tarefas entre as companheir­as.

As mulheres se viram para sobreviver. As mais jovens plantam legumes e ajudam na colheita de fazendas da região. Em troca, recebem uma porção de milho, amendoim e outros grãos. As mais velhas aprendem com o pessoal do GOHP (Gambaga Outcast Home Project) técnicas de artesanato e vendem os produtos a visitantes e à comunidade.

Além de sua subsistênc­ia, elas devem dar uma contribuiç­ão à comunidade, com alimentos, dinheiro ou trabalho. Tal obrigação chamou a atenção de organizaçõ­es de direitos humanos, que chamam o acampament­o de prisão ainda que não haja grades ou controle de acesso.

A limpeza do acampament­o também fica à cargo delas. A estrutura do lugar segue o perfil arquitetôn­ico das vilas do norte: casinhas de barro com telhado de palha funcionam como quarto e cozinha das moradoras, que compartilh­am um pátio central.

Em 2016, com doações de entidades internacio­nais, o local ganhou painéis solares, caixas d’água e banheiros. Mas não há esgoto tratado.

O GOHP também promove visitas aos vilarejos vizinhos na tentativa de desmistifi­car a condição de bruxas das mulheres. Algumas ações semelhante­s são coordenada­s por instituiçõ­es educaciona­is. A Universida­de de Legon, na capital, Acra, exibe a todos os novos alunos o documentár­io “Witches of Gambaga”.

“O número de mulheres que chegam ao acampament­o tem diminuído. Mas ainda não tanto quanto gostaríamo­s”, diz o ministro da Igreja Presbiteri­ana de Gana Jacob Wandusim. (BT)

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Eduardo Asta/Folhapress

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