Folha de S.Paulo

HELOÍZA MARIA CARMONA SANTOS, 14

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to. Não é nada legal ficar no hospital, era tanta medicação que eu ficava enjoada e não conseguia comer. Era só biscoito de polvilho e iogurte. Vendo a situação, um médico bonzinho me deixou comer um lanche. Foi uma alegria só.

Sabia que a cirurgia era complicada e que eu tinha 50% de chance de vida. Poderia voltar sem falar, andar, em estado vegetativo ou até mesmo não voltar.

Na madrugada que antecedeu o procedimen­to, acordei às 3h com a enfermeira me dando medicação. Pedi para falar com minha mãe, ela não queria me ouvir, mas insisti.

Falei em seu ouvido, bem baixinho: “mãe, se eu voltar da cirurgia sem conseguir falar quero que você saiba que eu amo muito vocês e nunca vou esquecer tudo o que vocês fazem por mim. E, se eu não voltar, vou pedir muito para Deus me enviar de novo nessa família, porque eu sei o quanto sou amada. Minha mãe chorou”.

Fiquei três dias sem sentir as pernas, pensei que iria usar uma cadeira de rodas, mas, mais uma vez, contrariei as expectativ­as e me recuperei bem. Saí de mais essa sem sequela, estou mais forte do que nunca.

Deus tem o controle de tudo e acredito muito nele. Ele é muito bom e se eu estou aqui até hoje é porque ele ainda não quis desligar o botãozinho que me mantém viva. Só tenho que aproveitar e agradecer. A gente não pode ficar reclamando de um negocinho pequeninin­ho que não está dando certo. Tem gente que tem problemas muito maiores. A gente tem que ser feliz. 15 ANOS Sempre sonhei com uma festa de 15 anos. Não precisava ser algo grande, só queria dançar a valsa. Mas, como não temos condições financeira­s, iria comemorar apenas com um bolo. Eu estava feliz, mas ainda queria dançar a minha valsa. Foi aí que tive a ideia de juntar os textos que escrevia para o jornal e lançar o livro “O Sol que Brilha em Torno de Mim”, com 40 crônicas sobre assuntos como política, cultura e coisas do dia a dia.

Contei a ideia para minha mãe, que aceitou o desafio e, com a ajuda de uma amiga, lançamos uma vaquinha online. Queríamos arrecadar R$ 5.000 para fazer e lançar o livro e, com a venda dele, eu poderia então pagar a minha própria festa de 15 anos, que vai ser no dia 20 de outubro.

O resultado nem eu esperava, mesmo. O assunto foi ganhando força e já arrecadamo­s mais do que pretendíam­os. E ganhamos quase tudo para a minha festa. Nem nos meus sonhos mais fofinhos eu imaginaria que tudo seria assim. A VALSA Eu vou poder dançar valsa, e o príncipe que vai me acompanhar nesse momento já está escolhido, é o Álvaro, um menino da minha escola. Ele tem Síndrome de Down, começou a estudar comigo no começo deste ano e nos tornamos muito amigos.

Eu até poderia escolher um amigo de infância, alguém que eu conheço há mais tempo, mas o Álvaro me cativou. Ele é muito especial, ele preza pelo respeito ao próximo, trata todos muito bem, é um verdadeiro príncipe. Não tinha como não ser ele. O LIVRO O dinheiro da vaquinha vai ajudar no lançamento do meu livro, que deve acontecer em outubro. Ele já está pronto e foi levado para a gráfica. A procura já está grande, tem muita gente ligando pedindo para encomendar. Serão feitos 1.000 exemplares e torço para que todos gostem.

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