Folha de S.Paulo

Depois de dez anos, Majestoso tem arquirriva­is em papéis invertidos

Expoente em 2007, São Paulo luta contra queda e vê Corinthian­s liderar com solidez defensiva

- EDUARDO GERAQUE GIANCARLO GIAMPIETRO PAULO VINÍCIUS COELHO

Retaguarda alvinegra sofreu apenas 13 gols em 24 jogos; há dez anos, oponente levou só 19 e estabelece­u recorde FOLHA

O líder Corinthian­s só marcou dois gols a mais do que o São Paulo, o 17º, neste Brasileiro. O abismo entre os rivais que se enfrentam neste domingo (24), às 11h, no estádio do Morumbi, é exposto justamente no quesito que marcou o último período hegemônico são-paulino, há dez anos: a eficiência ao se defender.

Agora é o rival que exibe as qualidades que um dia já pertencera­m ao time tricolor.

A solidez da retaguarda, a melhor do campeonato, com 13 gols sofridos em 24 jogos, é o que propulsion­a o Corinthian­s de Fábio Carille. Seu rival, que soma 12 rodadas na zona de descenso, levou quase o triplo de gols (36).

A organizaçã­o na hora de proteger sua meta se tornou uma espécie de marca registrada do time alvinegro nos últimos anos, passando por Mano Menezes e Tite.

Caracterís­tica que dá à equipe algo raro no país. Um jeito de jogar, independen­temente do treinador da vez.

Sofrer poucos gols foi marca importante durante o período hegemônico do São Paulo na era dos pontos corridos do Brasileiro, com o tricampeon­ato de 2006 a 2008.

Nesse triênio, o auge foi a conquista de 2007. Na ocasião, a equipe dirigida por Muricy Ramalho levou apenas 19 gols, aquela que é até hoje a melhor marca da competição em seu atual formato.

Na época, o são-paulino poderia se orgulhar daquilo que hoje se verifica no rival.

Das últimas seis edições do Brasileiro, a defesa corintiana esteve entre as cinco melhores em cinco. Foi a menos vazada em 2011, 2013 e 2015 (veja quadro acima). Algo que se repete este ano, com Carille promovido a comandante.

O treinador foi assistente tanto de Mano, de 2009 a 2010 e em 2014, como de Tite, de 2010 a 2013 e de 2015 a 2016, nesta fase de títulos nacionais e internacio­nais.

“O Mano trabalhava muito a compactaçã­o. Entendi a linha defensiva, os 30 metros em relação à bola”, disse Carille. GANGORRA Em 13 de setembro, o São Paulo abriu as portas de seu centro de treinament­o para um grupo de torcedores, membros de organizada­s incluídos, para reunião com jogadores, Dorival e diretoria.

Dez anos atrás, na semana de um clássico, disputado em 7 de outubro, as uniformiza­das do Corinthian­s também foram ao Parque São Jorge conversar com atletas.

As coincidênc­ias entre o clássico de 2007 e o deste domingo vão além. O São Paulo era o líder, enquanto o Corinthian­s estava em 18º.

Era a 30ª rodada, seis à frente da atual. O Corinthian­s venceu por 1 a 0, gol do zagueiro Betão, o que não impediu

MURICY RAMALHO

ex-treinador tricampeão brasileiro pelo São Paulo de 2006 a 2008 o rebaixamen­to.

“As pessoas dizem que o Corinthian­s caiu em 2007, mas a gente sabia naquela época que o declínio começou muito antes. Desde 2004, quando quase caímos no Paulista”, afirmou Betão.

O rebaixamen­to corintiano foi marcado por mudança de jogadores, dirigentes e técnicos. A contrataçã­o de Nelsinho Baptista foi a busca por uma referência do passado.

“Mudamos o time e não encaixou”, disse Betão.

O são-paulino agora reconhece esses elementos. Em dez anos, a inversão é total.

“Falta encaixar” é uma expressão usada em demasia pelo técnico Dorival Júnior nas últimas semanas.

Dorival é o 14º técnico do São Paulo em nove anos. Neste período, houve dez diretores de futebol. A identidade do tricampeon­ato se esfacelou. O time já lutou contra o rebaixamen­to em 2013 e 2016.

Entre tantos nomes, o clube alternou visões de jogo opostas de um ano para o outro.

Em 2015, foi ao mercado internacio­nal buscar o colombiano Juan Carlos Osorio, que idealizava um time ofensivo, versátil, com metodologi­a de vanguarda. Em 2016, trouxe o argentino Edgardo Bauza, conservado­r que obteve sucesso priorizand­o a defesa.

“O grande problema do Brasil é que se muda tudo. Se não tentar contratar para o jeito que você joga, o time perde estilo”, disse Muricy.

“Não se trabalha com visão sistêmica. O que há são projetos pessoais tanto de dirigentes como de nós, treinadore­s”, complement­ou Paulo Autuori, técnico do São Paulo em 2013, à Folha.

Osorio exerceu grande influência em Rogério Ceni, que, em ano eleitoral, foi contratado como técnico estreante. Após a queda do ídolo, a diretoria foi atrás de outra figura histórica, Hernanes. Mais um campeão brasileiro em 2007.

“problema do futebol brasileiro é que se muda tudo. Mudam os técnicos, mudam os jogadores. Se não tiver tentativa de se contratar pensando no jeito que o time costuma jogar, você perde seu estilo

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Rodrigo Gazzanel - 15.set.2017/Futura Press/Folhapress Fábio Carille, treinador do Corinthian­s, orienta treino
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Marcos Bezerra/Futura Press/Folhapress O técnico Dorival Júnior durante treino do São Paulo

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