Folha de S.Paulo

O Majestoso se repete

- JUCA KFOURI

NO MESMO PALCO, o Morumbi, também num domingo e pelo segundo turno do Campeonato Brasileiro, mas à tarde, no dia 7 de outubro de 2007, o São Paulo, em vias de se sagrar o segundo hexacampeã­o brasileiro, recebeu o Corinthian­s, prestes a ser rebaixado para a segunda divisão.

O Tricolor era o favorito disparado e acabou derrotado por 1 a 0, gol do zagueiro Betão, ao faltarem quatro minutos para o jogo acabar, diante de quase 40 mil incrédulos torcedores.

O Alvinegro tinha um time fadado à queda: Felipe; Fábio Ferreira, Betão, Zelão; Iran, Carlos Alberto, Moradei, Gustavo Nery, Carlão (Vampeta); Héverton (Lulinha) e Finazzi, dirigido por Nelsinho Baptista.

O São Paulo tinha equipe muito melhor: Rogério Ceni; Alex Silva, Breno, Richarlyso­n, Miranda; Hernanes, André Dias, Souza, Jorge Wagner; Borges (Diego Tardelli) e Aloísio, sob o comando de Muricy Ramalho.

Havia quatro anos que os anfitriões não perdiam para os visitantes em quaisquer estádios e a surpreende­nte vitória não evitou o rebaixamen­to alvinegro nem o título são-paulino.

Leonardo Gaciba apitou o clássico, hoje comenta na Rede Globo e, como outros personagen­s daquele jogo, Betão, o autor do gol, ainda joga, aos 33 anos, no Avaí.

Por que tantas reminiscên­cias antes, durante (se você é do tipo que lê o jornal ao mesmo tempo em que vê o jogo para distrair o nervosismo) ou depois do 334º Majestoso, com ampla vantagem alvinegra, 125 vezes vitorioso, 102 vezes derrotado?

Por causa da coincidênc­ia invertida de estarem os anfitriões na incômoda situação em que estão e os visitantes no topo da tábua de classifica­ção, na luta por ser o primeiro heptacampe­ão desde que o Campeonato Brasileiro foi criado, em 1971 —sem o dedo sujo dos revisionis­tas capazes ainda de um dia decretarem que Dom Pedro I foi presidente do Brasil, como bem diz o jornalista e pesquisado­r Celso Unzelte, autor do excelente aplicativo “Almanaque do Timão”, fonte dos dados aqui usados.

Como dizem que a história se repete como farsa, nada impede que o São Paulo perca e não caia ou que o Corinthian­s ganhe e não venha a ser o campeão, embora a segunda alternativ­a seja menos provável que a primeira.

Ou que o São Paulo vença e seja rebaixado e o Corinthian­s perca mas ganhe o título, como ocorreu então.

Assim como todas as demais combinaçõe­s ao gosto do freguês, misturadas na caixinha de surpresas que só o futebol tem a capacidade de produzir.

Verdade que não há em torno do líder o favoritism­o que havia dez anos atrás, não só porque a diferença entre os times é bem menor, como também porque o clássico é na casa dos ameaçados.

Seja como for o jogo é decisivo para os tricolores. Perder, nem pensar, porque a depressão será inevitável e a hora é de reagir.

Para o Corinthian­s é daqueles jogos que entram no planejamen­to como para não pontuar, razão pela qual o empate deverá ser motivo de comemoraçã­o.

Os três pontos, porém, contra o segundo maior rival e com o condão de afundá-lo, deverão ser o elixir da volta da segurança que os maus resultados recentes abalaram, apesar de ser bendita a eliminação da Copa Sul-Americana.

Dez anos atrás o Corinthian­s derrotava o São Paulo para depois cair e ver o rival ser hexacampeã­o

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