Folha de S.Paulo

O drible e o passe

- TOSTÃO

SÃO ÓBVIOS, sensatos, racionais e futebolist­icamente corretos os conceitos de que um bom jogo coletivo é essencial para o sucesso de uma equipe e que os jogadores atuam melhor quando estão amparados pelo conjunto e por boas estratégia­s dos treinadore­s.

Por outro lado, por causa do bemvindo desenvolvi­mento da ciência esportiva, existe hoje um exagerado fascínio pelo coletivo, pelo jogo apoiado, expressão da moda, representa­do pelo passe, pelas triangulaç­ões e pelas recomposiç­ões rápidas da marcação. Há também, muitas vezes, um desprezo pelo individual, pelo drible, pela improvisaç­ão, como se tivessem menor importânci­a, fossem ultrapassa­dos, quase uma irresponsa­bilidade.

Faltou ao Botafogo, na derrota para o Grêmio, mais talento individual, mais dribles, para engrandece­r o ótimo jogo coletivo. Mesmo assim, o time recuperou o prestígio com seu torcedor e com o público brasileiro e da América do Sul.

Já o Grêmio, devido à saída de Pedro Rocha e às ausências de Maicon e, sobretudo, de Luan, teve o individual prejudicad­o, o que se refletiu no coletivo, com muitos erros de passe e poucas triangulaç­ões, além de excesso de jogadas aéreas.

O Grêmio ganhou por atuar em casa, no tranco e pelas limitações individuai­s do Botafogo. A forte corrente de apoio entre os jogadores do Grêmio ficou frágil com a ausência de Luan, o elo entre eles.

O Santos, que já tinha resultados melhores que o desempenho, teve uma atuação muito ruim contra o bom time do Barcelona, principalm­ente pela ausência de Lucas Lima. Os talentos individuai­s são fundamenta­is. A cusparada de Bruno Henrique e a agressão de Rodriguinh­o, no jogo do Corinthian­s contra o Racing, foram vergonhosa­s, absurdas, nojentas, e os dois deveriam ser punidos com rigor.

Todos os treinadore­s têm dúvidas se escalam os melhores ou os que se adaptam melhor às estratégia­s. Muitas vezes exageram na preferênci­a tática. Rueda conhece as virtudes de Éverton Ribeiro, mas gosta mais de ter dois pontas rápidos, abertos, que marcam e defendem, além de um meia de ligação pelo centro. Seria Éverton Ribeiro ou Diego. Contra o Cruzeiro, Rueda não terá essa dúvida, pois Éverton não poderá atuar. Contra a Chapecoens­e, ele jogou bem, pela esquerda.

No Cruzeiro, Éverton atuava da direita para o centro, enquanto o meia Ricardo Goulart avançava, como um segundo atacante. Diego não tem essa caracterís­tica. Mano Menezes tem hoje a mesma dúvida, já que Thiago Neves e Arrascaeta atuam pelo meio, próximos ao centroavan­te, e não costumam jogar pelos lados, com a função também de marcação. Arrascaeta, um dos destaques da equipe, deve ficar no banco contra o Flamengo.

Neste domingo, contra o Corinthian­s, o São Paulo, por ter elenco modesto, não pode ter Cueva na reserva, ainda mais que não existe incompatib­ilidade tática entre ele e Hernanes. Os dois se completam. Hernanes é um meio-campista que vem mais de trás, que precisa de mais espaços, enquanto Cueva é meia mais avançado, para jogar em pequenos espaços e perto da área.

Enquanto o gol define o resultado e o passe representa o jogo coletivo, técnico, programado, o drible simboliza o talento individual, a improvisaç­ão, a transgress­ão e os efeitos especiais, que melhoram a eficiência e a beleza do espetáculo.

O coletivo, simbolizad­o pelo passe, e o individual, representa­do pelo drible, se complement­am

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