Folha de S.Paulo

CRÍTICA Especial lembra por que Jerry Seinfeld é quem é

Programa mescla stand-up inédito em clube lendário com cenas externas, o que dá um sabor especial para os fãs

- TETÉ RIBEIRO

“Jerry Before Seinfeld”, disponível na Netflix desde terça-feira última (19), não é apenas mais um especial de comediante­s, daqueles em que se registra uma boa sessão de stand-up com o propósito de exibi-la depois na TV.

Nessa linha, há exemplares melhores no próprio serviço on demand, como os quatro shows de Louis C.K. e o duplo de David Chappelle, para ficar apenas em nomes que levaram esse tipo de entretenim­ento à categoria de arte.

Mas tem um stand-up como base e fio condutor, feito no lendário clube Comic Strip, o primeiro em que o comediante se apresentou na vida, em Nova York, em 1976.

Na noite em que apareceu, sem ser anunciado, fez um show em que contava sua história, em esquetes cômicos, desde a infância em Long Island até a primeira apresentaç­ão no programa de TV “The Late Show”, apresentad­o por Johnny Carson.

Jerry, aliás, volta à primeira piada que contou naquele palco. É um breve monólogo sobre ser canhoto (“left-handed”, em inglês) e trocadilho­s intraduzív­eis com a palavra “left”, que pode tanto significar “esquerda” como o particípio passado do verbo “leave” (sair, partir, deixar).

Mas ele também insere no programa cenas feitas fora do clube, o que dá um sabor todo especial para os fãs do comediante mais bem-sucedido de sua geração.

Vai, por exemplo, até a esquina de Manhattan em que, sentado um dia numa hora de almoço, tomou a decisão de tentar a vida como comediante, porque “achava o mundo real muito entediante”.

Tem também uma passagem impression­ante, em que cobre uma rua inteira com seus textos e conta que guardou todas as suas boas piadas desde que começou a carreira, escritas à mão, com riscos e correções.

Ele abre a pasta e conta uma para a câmera. Não é das melhores, mas a cena íntima vale ouro para quem assistiu às nove temporadas de “Seinfeld” e sente falta de algo tão bom na TV desde o cancelamen­to da série, em 1998.

A sessão de stand-up no clube é boa, mas não do estilo que arranca gargalhada­s. Tem piadas repetidas de outras apresentaç­ões, que os seguidores vão reconhecer, mas muito fato novo e revelador do começo da carreira dele e, como diz o título, tudo antes da explosão do seriado.

Não há uma menção a “Seinfeld” ou à vida atual dele, o casamento, os três filhos, a websérie “Comedians in Cars Getting Coffee”, atualmente na sexta temporada.

Não é Jerry em seu melhor momento. Mas é Jerry Seinfeld, e sua marca única de fazer humor com observaçõe­s perspicaze­s de detalhes banais da vida está lá, entremeada de passagens não exatamente cômicas em que mostra a casa onde nasceu e foi criado, fotos antigas de quando era um comediante em começo de carreira, imagens de infância, vídeos caseiros.

A mistura de documentár­io com stand-up não tem a melhor liga, e o espectador sente falta de mais das duas coisas. A hora voa e, mesmo sem dar uma boa risadona, serve para lembrar por que Jerry Seinfeld é quem ele é, por que pode trabalhar só o quanto, como e quando quer.

E por quanto quer: esse especial de uma hora, mais um segundo episódio, já contratado e ainda sem data, assim como as próximas temporadas de “Comedians in Cars”, que migrarão da internet para a Netflix, renderam a ele US$ 100 milhões (R$ 320 milhões), segundo relatos na imprensa americana.

Jerry já era Seinfeld antes de “Seinfeld”, mas o resto do mundo não tinha como saber. Agora tem. NA INTERNET Jerry Before Seinfeld Netflix muito bom

 ?? Divulgação ?? O comediante no especial ‘Jerry Before Seinfeld’, em gravação no Comic Strip, em Nova York, clube onde ele começou a fazer stand-up, nos anos 1970
Divulgação O comediante no especial ‘Jerry Before Seinfeld’, em gravação no Comic Strip, em Nova York, clube onde ele começou a fazer stand-up, nos anos 1970

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