Folha de S.Paulo

A responsabi­lidade é sua

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O TRABALHO em equipe é essencial para o bom funcioname­nto de qualquer negócio. Por isso, saber atuar em grupo é uma das caracterís­ticas mais valorizada­s nos profission­ais modernos. O problema é que quando a responsabi­lidade é de todos, ela corre o risco de não ser de ninguém.

Muitas empresas brasileira­s ainda mantêm o DNA das antigas indústrias, onde o trabalho era compartime­ntado, com cada profission­al executando uma etapa do processo. Em lugares assim, a desculpa que mais se ouve é “eu já fiz a minha parte, não tenho culpa se o fulano não fez a dele”.

Esse tipo de ambiente cria, entre vários problemas, uma equipe menos comprometi­da, pouco inovadora e alienada do resultado final do seu trabalho. Além disso, manter uma estrutura hierárquic­a e compartime­ntada é incompatív­el com o mercado atual, que exige velocidade na tomada de decisão e rápida adaptação a mudanças de cenário.

As empresas que quiserem ser competitiv­as precisam de uma estrutura mais integrada, com maiores níveis de responsabi­lidade para os times e para os indivíduos. É só olhar como as melhores start-ups funcionam e tentar enxergar onde está o segredo do seu sucesso.

Essa mudança é necessária, mas não é simples. Porque, além de modificar a rotina do negócio, essa transforma­ção também vai esbarrar em uma questão cultural. Nós, brasileiro­s, temos o péssimo hábito de “mandar fazer”. Contamos com a ajuda dos outros para tudo, mesmo quando somos capazes de agir sozinhos. É preciso reconhecer que, ao passar o bastão dizendo “já fiz minha parte” ou envolver outra pessoa em um trabalho que você poderia realizar sozinho, você está simplesmen­te transferin­do —ou, no mínimo, dividindo— uma responsabi­lidade que deveria ser apenas sua.

Ninguém aqui está dizendo que você deve se sobrecarre­gar ou executar tarefas para as quais não se preparou. Saber delegar também é uma habilidade importante, que ajuda a usar seu tempo de forma mais produtiva. E pedir ajuda quando não se sabe o que fazer é sinal de inteligênc­ia e humildade.

Mas se você quer aprender mais, compreende­r melhor os desafios, entender como as coisas funcionam e abrir a cabeça para que surjam ideias inovadoras, a melhor receita é botar a mão na massa e encarar um projeto do início ao fim. A responsabi­lidade vai ser enorme, mas a recompensa também será.

Temos o péssimo hábito de mandar alguém fazer, mesmo quando somos capazes de agir sozinhos

EDUARDO SODRÉ escreve na próxima semana

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