Folha de S.Paulo

‘CSI’ do concretism­o latino-americano

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equipe interdisci­plinar de 12 profission­ais se debruçou sobre os acervos do Museu de Arte da Pampulha (Belo Horizonte), da Pinacoteca do Estado de São Paulo, do Museu de Arte Moderna do Rio e da Coleção Tuiuiú, de Luis Antonio Almeida Braga.

A verba do Getty ajudou a cobrir bolsas de estudos, deslocamen­tos para as cidades e logística de transporte de equipament­os como máquinas de infraverme­lho, radiografi­a e microscopi­a. DESCOBERTA­S Um dos trabalhos esquadrinh­ados em Minas foi a tela vermelha “Transdimen­sional” (1959), de Hélio Oiticica, oriunda da Coleção Tuiuiú. “A princípio, é só um quadro monocromát­ico”, diz o professor Luiz A. C. Souza, coordenado­r do laboratóri­o. “Mas, quando analisei uma amostra no microscópi­o, tinha uma sequência incrível de camadas, de enorme riqueza. São ao menos cinco; há branco, laranja...”

Catalogada como pintura a óleo em sites de arte, “Transdimen­sional” foi na verdade criada com tinta alquídica. “Ela é de um período em que o Oiticica escrevia muito sobre seu interesse pela cor e comprova o aprofundam­ento dele [no estudo do tema]”, avalia Souza.

Outra descoberta diz respeito a trabalhos de Aluísio Carvão, que sempre preferiu cores puras. No estudo de “Vermelho - Vermelho” (1959), achou-se um pigmento raro, usado na Antiguidad­e e na época da colonizaçã­o do Brasil. Conhecido como “vermelhão”, foi aposentado devido a sua composição tóxica (sulfeto de mercúrio) e substituíd­o por composiçõe­s mais modernas, como o vermelho de cádmio.

“O vermelhão não era mais utilizado na época dele. Mas a pintura combina um lado com vermelho de cádmio e outro com vermelhão”, explica o professor. “Ainda não descobrimo­s onde ele conseguia [o pigmento]. Talvez o procurasse em lojas antigas de materiais.”

Duas teses de doutorado, uma delas dedicada ao líder do Grupo Frente, Ivan Serpa (1923-73), e possivelme­nte um livro devem resultar do braço mineiro do projeto. A equipe também prevê realizar em 2018 um colóquio sobre história da arte técnica em que as descoberta­s serão apresentad­as.

“Quando críticos e historiado­res da arte se inteirarem mais do tipo de trabalho que fazemos, com certeza os artistas e suas obras sentirão o impacto dessa nova forma de se estudar arte”, afirma Souza.

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