Mundos de barro
Itá, 1975
agressivo de transformações técnicas ditas “modernizadoras” promovido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), sem consulta à comunidade local nem avaliação de seu impacto cultural e ambiental.
O outro era causado pela tentação que emigrar a Buenos Aires representava para as mulheres jovens. Naquela época, a necessidade de mão de obra barata para o serviço doméstico levara à redução do preço das passagens para a capital da Argentina.
Julia se sentiu atraída por essa possibilidade e considerou seriamente abandonar a cerâmica.
Naquele momento, já estava sendo consolidado o Museu do Barro, que deu forte apoio à ceramista na logística de produção e de venda de seu trabalho.
Segundo Julia, esse respaldo foi determinante para sua decisão de permanecer em Itá.
Desde então, Juana Marta e sua filha conseguiram afirmar uma cerâmica capaz de, ao mesmo tempo, desenvolver as técnicas da antiga tradição guarani e apropriar-se de novas imagens.
Assim, o trabalho dessas duas mulheres, desenvolvido entre a casa de teto de sapê e a de telhas, se enriquece com naturalidade e força graças às imagens estranhas aproximadas pela modernidade periférica, gerando como resultado um repertório que integra diversos elementos numa obra que constitui uma das expressões mais seguras e fortes da arte paraguaia.
Dona Juana Marta morreu alguns anos atrás, em 2013; Julia leva seu trabalho adiante com o dobro do empenho.
Independentemente do enorme valor que dou ao trabalho de ambas, o fato de conhecê-las e de ter participado desde então desse mundo duplo —que, no fundo, é sempre um só e cabal— constitui uma das experiências pessoais mais ricas que vivi no mundo da cultura do Paraguai.