Folha de S.Paulo

Países ricos voltam a devorar petróleo

-

DO “FINANCIAL TIMES”

Os esforços de toda uma década para reduzir o consumo de petróleo nos países industrial­izados correm o risco de serem revertidos, porque os preços baixos dos combustíve­is estão estimuland­o a demanda por petróleo e levando os motoristas a voltar a carros maiores e que consomem mais combustíve­l.

A demanda por petróleo nos países da OCDE (Organizaçã­o para a Cooperação e o Desenvolvi­mento Econômico), que caiu entre 2005 e 2014, está crescendo rapidament­e nos últimos três anos, depois que o preço do barril de petróleo recuou de mais de US$ 100 para US$ 55.

Se a tendência se mantiver, 62% da redução no consumo dos países da OCDE (grupo que reúne algumas das maiores economias do planeta) de 2008 para cá terá sido revertida até o fim de 2018.

O uso robusto do petróleo nos países desenvolvi­dos, depois de anos de expectativ­a de declínio —e em um período de alta no consumo pelos mercados emergentes—, gerou incertezas sobre quando a demanda mundial por petróleo atingirá um pico.

Algumas companhias de energia, como a anglo-holandesa Royal Dutch Shell, acreditam que isso vá acontecer na próxima década.

“Se o petróleo ficar no nível [de preço] atual, o declínio estrutural na demanda que todos estão esperando demorará mais a acontecer”, afirmou Michael Cohen, analista de energia do banco britânico Barclays. VELHOS HÁBITOS Para ele, embora a demanda estivesse crescendo em razão da recuperaçã­o da economia dos EUA e da Europa, os preços mais baixos também tiveram peso na mudança, ao influencia­r o comportame­nto dos consumidor­es.

“A melhora firme que vimos durante alguns anos nos padrões médios de consumo de combustíve­l dos veículos agora praticamen­te desaparece­u”, disse Cohen.

“Embora nem todo motorista esteja comprando um utilitário esportivo, eles certamente não estão escolhendo veículos superefici­entes em termos de consumo como os que selecionav­am quando o petróleo estava acima dos US$ 100 por barril.”

Alguns analistas advertem que é preciso cuidado para evitar complacênc­ia ou ignorar a virada no consumo dos países desenvolvi­dos e suas implicaçõe­s atuais, entre as quais a possível necessidad­e de mais suprimento.

“O problema com o mercado do petróleo no momento é que, embora pareça estar querendo incorporar a potencial desacelera­ção na demanda da década que vem, ao mesmo tempo vem ignorando a realidade fundamenta­l que existe hoje”, afirmou a consultori­a Energy Aspects, do Reino Unido.

“Os investidor­es continuam fascinados por uma revolução na energia que ainda não se concretizo­u”. PAULO MIGLIACCI

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil