Folha de S.Paulo

Concessão da raspadinha atrai 3 múltis

Processo de privatizaç­ão da loteria vai para audiência pública na terça (26) e tem leilão previsto para dezembro

- JOANA CUNHA

Lance mínimo para a exploração da Lotex será de R$ 1 bilhão, mas governo Michel Temer espera até R$ 2 bilhões

Previsto para meados de dezembro, o leilão da concessão da Lotex, estatal de loterias instantâne­as conhecida como raspadinha, já atrai o interesse de três multinacio­nais do setor de jogos.

A britânica IGT, a grega Intralot e americana Scientific Games estão acompanhan­do o processo que vai a audiência pública na terça (26).

Além do serviço de operação de loterias, as empresas atuam em segmentos como gestão de apostas esportivas, slot machines, tecnologia e desenvolvi­mento de jogos.

Listada na Bolsa de Nova York, a IGT se declara a maior do mundo. Ela mantém um escritório em São Paulo, à espera da retomada dos negócios suspensos desde a proibição dos bingos em 2004. É sócia da Gtech, que foi alvo da CPI dos Bingos à época.

Procurada, a IGT admite interesse na Lotex, mas ressalva que ainda são estudos. “A IGT é uma forte candidata, mas ainda não temos decisão final sobre a participaç­ão nessa licitação, pois estamos analisando as condições que acabam de ser publicadas”, afirma a IGT Internatio­nal, em nota.

A resolução em que o governo determinou o lance mínimo de R$ 1 bilhão pelo direito de explorar a Lotex foi publicada no dia 1º deste mês. O governo espera que a estatal possa ser concedida por até R$ 2 bilhões.

A Intralot, que está em mais de 50 países, já atua no Brasil em um contrato com a loteria de Minas Gerais.

Sergio Alvarenga, presidente da Intralot Brasil, confirma intenção de participar.

“Somos uma multinacio­nal com capital em Bolsa, exatamente neste modelo de concessão, com regulação do poder público em diversas modalidade­s”, diz ele.

A americana Scientific Games não se manifestou.

Uma quarta empresa de porte relevante no setor é a fornecedor­a de bilhetes canadense Pollard Banknote, mas não tem sondado o mercado.

Ela é citada nos estudos de viabilidad­e técnica do governo como uma das três empresas que concentram 80% do faturament­o do mercado mundial de loterias instantâne­as —ao lado da Scientific Games e da IGT-GTech. Procurada, a Pollard diz que não abre dados estratégic­os. REQUISITOS Para se candidatar à concessão, os participan­tes devem ter experiênci­a na operação de serviço de loteria instantâne­a e receita mensal bruta, da venda de bilhetes físicos ou apostas virtuais, de R$ 100 milhões ou mais.

Tarcísio de Freitas, secretário de projetos do PPI (Programa de Parceria em Investimen­tos, que aprovou a concessão), diz esperar um bom resultado ao fim do processo.

Sem citar nomes, Freitas disse à Folha que esteve com advogados que representa­m grandes empresas do setor. A proposta de concessão da Lotex se mostrou atrativa.

“Não adianta querer vender o que o mercado não quer comprar”, disse.

Durante os estudos para definir o futuro da Lotex, a Caixa, que opera diversos jogos lotéricos, queria controlar a empresa para depois privatizá-la. Mas o Ministério da Fazenda, contrário à ideia, venceu a disputa decidindo fazer leilão para que ela seja administra­da via concessão.

“Os caras disseram o seguinte: não compro loteria com participaç­ão da Caixa. Vou ter no meu conselho um concorrent­e? Ela vai participar das decisões estratégic­as e tem um produto que é concorrent­e ao meu. Então não compro. Se o estudo mostrou que o melhor modelo da venda da Lotex era tirando [a Caixa], então foi essa a decisão tomada”, disse Freitas.

Para o advogado Luiz Felipe Maia, do escritório FYMSA, especialis­ta no tema, “a decisão de manter a Caixa fora da operação foi interpreta­da pelo setor como sinal de abertura à iniciativa privada”.

Além da loteria, a indústria mundial de jogos tem hoje os olhos voltados para o país em outra frente. Tramitam no Congresso dois projetos de lei que visam legalizar no Brasil jogos de azar como cassinos, bingo e jogo do bicho. Hoje, o Brasil também permite a exploração de jogos como pôquer e corridas de cavalo.

As expectativ­as estavam altas no ano passado. Grandes competidor­es globais ensaiaram algumas “apostas”: sondaram imóveis para se instalar e visitaram Brasília. No primeiro semestre deste ano, porém, a crise política e a agenda de reformas deixaram o jogo em segundo plano.

Magno de Sousa, presidente do Instituto Brasileiro Jogo Legal, que defende a causa, diz que a esperança do setor voltou nos últimos meses.

“O relator do projeto no Senado protocolou parecer favorável na Comissão de Constituiç­ão e Justiça. Na Câmara, tivemos sinalizaçã­o do presidente Rodrigo Maia que ficou de discutir o tema com líderes partidário­s”, diz Sousa.

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Christian Hansen - 18.jan.2008/“The New York Times” Raspadinha­s nos EUA; americana está de olho na Lotex

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