Cotas para candidatas mulheres são insuficientes, indica estudo
Para pesquisadores da FGV-SP e do Insper, é preciso melhorar condições para atuação feminina
Trabalho mostra, porém, que eleitores expostos a políticas qualificadas passam a votar mais em mulheres
Enquanto a Justiça Eleitoral aperta o cerco contra o descumprimento da cota obrigatória de 30% de candidatas em cada coligação, pesquisas recentes indicam que esse sistema é falho e pode até atrapalhar a ascensão feminina.
Equilibrar o jogo requer ex- por o eleitorado a mais mulheres eleitas, que tenham recursos para implantar boas políticas, defende o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) Paulo Arvate.
Em parceria com Renan Pieri, também da FGV, e Sérgio Firpo, do Insper, Arvate acaba de publicar estudo sobre o impacto, em eleições seguintes, da vitória de candidatas a prefeita nos pleitos de 2000, 2004, 2008 e 2012.
Cidades que elegeram mulheres sem ensino superior deram menos votos a candidatas a prefeita nas eleições seguintes, em comparação com as que elegeram homens de mesma escolaridade.
Já quando as eleitas ti- nham nível superior, houve aumento significativo de votos em deputadas federais e vereadoras, comparando-se com cidades governadas por homens mais escolarizados.
Isso só ocorreu, porém, nos municípios que tinham porcentagem de vereadoras acima da média brasileira. Os economistas avaliaram casos de disputa acirrada entre homem e mulher, para descartar municípios com preferência clara por um dos gêneros.
“Não adianta apenas criar cotas e preenchê-las com candidatas sem preparo nem apoio do partido”, diz Firpo.
“O que ocorre no Brasil é uma falsa imagem sobre a capacidade da mulher na política, um estereótipo, cuja origem é falta de informação”, afirma Arvate. “Essa opinião muda quando o eleitor é exposto a boas políticas.” REMÉDIO INÓCUO Os números mostram que as cotas não elevaram a proporção de eleitas. Em 2016, elas ficaram com 13,5% das vagas de vereadoras e 9,94% das de deputadas federais.
Em levantamento da ONU Mulheres em 33 países de América Latina e Caribe, o Brasil só não está pior que Belize, diz a representante no país, Nadine Gasman.
Segundo ela, instrumentos que levaram a avanço rápido em outros países não deram
Cotas não garantem aumento da participação
resultado na política brasileira. “Como na medicina, se o paciente não reage com um tratamento, é preciso adotar uma intervenção mais forte.”
A Justiça vem apertando a fiscalização, segundo Luiz Carlos dos Santos Gonçalves, procurador regional eleitoral de São Paulo. “Se a coligação não atende a cota no momento do registro, todos os candidatos são recusados.”
Há na Procuradoria Regional Eleitoral de SP (PRE-SP) mais de 230 procedimentos para investigar candidaturas fictícias de mulheres. Em agosto, pela primeira vez, o uso de “laranja” foi punido com cassação dos eleitos em Santa Rosa do Viterbo (SP).