Folha de S.Paulo

Cotas para candidatas mulheres são insuficien­tes, indica estudo

Para pesquisado­res da FGV-SP e do Insper, é preciso melhorar condições para atuação feminina

- ANA ESTELA DE SOUSA PINTO CAROLINA LINHARES

Trabalho mostra, porém, que eleitores expostos a políticas qualificad­as passam a votar mais em mulheres

Enquanto a Justiça Eleitoral aperta o cerco contra o descumprim­ento da cota obrigatóri­a de 30% de candidatas em cada coligação, pesquisas recentes indicam que esse sistema é falho e pode até atrapalhar a ascensão feminina.

Equilibrar o jogo requer ex- por o eleitorado a mais mulheres eleitas, que tenham recursos para implantar boas políticas, defende o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) Paulo Arvate.

Em parceria com Renan Pieri, também da FGV, e Sérgio Firpo, do Insper, Arvate acaba de publicar estudo sobre o impacto, em eleições seguintes, da vitória de candidatas a prefeita nos pleitos de 2000, 2004, 2008 e 2012.

Cidades que elegeram mulheres sem ensino superior deram menos votos a candidatas a prefeita nas eleições seguintes, em comparação com as que elegeram homens de mesma escolarida­de.

Já quando as eleitas ti- nham nível superior, houve aumento significat­ivo de votos em deputadas federais e vereadoras, comparando-se com cidades governadas por homens mais escolariza­dos.

Isso só ocorreu, porém, nos municípios que tinham porcentage­m de vereadoras acima da média brasileira. Os economista­s avaliaram casos de disputa acirrada entre homem e mulher, para descartar municípios com preferênci­a clara por um dos gêneros.

“Não adianta apenas criar cotas e preenchê-las com candidatas sem preparo nem apoio do partido”, diz Firpo.

“O que ocorre no Brasil é uma falsa imagem sobre a capacidade da mulher na política, um estereótip­o, cuja origem é falta de informação”, afirma Arvate. “Essa opinião muda quando o eleitor é exposto a boas políticas.” REMÉDIO INÓCUO Os números mostram que as cotas não elevaram a proporção de eleitas. Em 2016, elas ficaram com 13,5% das vagas de vereadoras e 9,94% das de deputadas federais.

Em levantamen­to da ONU Mulheres em 33 países de América Latina e Caribe, o Brasil só não está pior que Belize, diz a representa­nte no país, Nadine Gasman.

Segundo ela, instrument­os que levaram a avanço rápido em outros países não deram

Cotas não garantem aumento da participaç­ão

resultado na política brasileira. “Como na medicina, se o paciente não reage com um tratamento, é preciso adotar uma intervençã­o mais forte.”

A Justiça vem apertando a fiscalizaç­ão, segundo Luiz Carlos dos Santos Gonçalves, procurador regional eleitoral de São Paulo. “Se a coligação não atende a cota no momento do registro, todos os candidatos são recusados.”

Há na Procurador­ia Regional Eleitoral de SP (PRE-SP) mais de 230 procedimen­tos para investigar candidatur­as fictícias de mulheres. Em agosto, pela primeira vez, o uso de “laranja” foi punido com cassação dos eleitos em Santa Rosa do Viterbo (SP).

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