Folha de S.Paulo

Merkel e rivais enfrentam fraturas pós-voto

Com resultado aquém do esperado, partido-irmão da legenda da chanceler alemã pode rever aliança de 68 anos

- DIOGO BERCITO CAROLINA VILA-NOVA

Carismátic­a, líder da direita radical critica a própria legenda e diz que será independen­te no Parlamento

Um dia depois das eleições federais alemãs, enquanto começam as conversas para formar uma coalizão, os três partidos mais votados enfrentara­m crises em suas fileiras nesta segunda-feira (25).

Foi o caso da CDU (União Democrata-Cristã) da chanceler Angela Merkel, que venceu o pleito. Sua legenda-irmã, a CSU (União Social-Cristã), anunciou que vai debater internamen­te a tradiciona­l aliança que dura 68 anos.

CDU e CSU formam um bloco no Parlamento desde 1949. A CSU concorre sozinha apenas no Estado da Baviera.

O líder da CSU não escondeu a insatisfaç­ão. Horst Seehofer chamou os 33% de votos —nove pontos a menos que na eleição de 2013— de um “resultado amargo”.

Seehofer marcou para esta terça (26) um encontro que irá decidir se a CSU mantém o bloco parlamenta­r com a CDU. Depois, ele disse que isso não quer dizer necessaria­mente uma ruptura com Merkel.

Não é uma boa notícia para a chanceler, que tem 30 dias para formar um novo governo. No sistema parlamenta­r alemão, é preciso ter a maioria dos parlamenta­res para governar, algo que costuma exigir a criação de coalizões. Sem acordo até o fim desse prazo, pode haver nova eleição —como ocorreu na Espanha, no ano passado.

O segundo colocado no pleito também teve uma segunda-feira amarga.

O SPD (Partido Social-Democrata), de Martin Schulz, teve o pior resultado de sua história: 20,5%. A sigla, que hoje governa em coalizão com Merkel, anunciou que passará à oposição.

“Vamos confrontar esse governo de maneira construtiv­a”, disse Schulz. Reagindo à derrota, ele disse a repórteres que seu partido entraria em uma “nova temporada”. NOVOS ALIADOS Sem o SPD em sua coalizão, Merkel precisará recorrer aos liberais-democratas do FDP e aos Verdes. O trio tem, em conjunto, 52,6% dos votos, ou seja, uma maioria estreita.

O problema é que FDP e Verdes têm posições aparenteme­nte irreconcil­iáveis em áreas como ambiente e imigração —dois assuntos centrais no próximo governo. 153 SPD (sociaisdem­ocratas)

Mesmo o partido de direita ultranacio­nalista AfD (Alternativ­a para a Alemanha), que teve um resultado surpreende­ntemente bom nas eleições, sofreu rupturas.

A vice-líder Frauke Petry, sua figura mais carismátic­a, chocou os próprios colegas ao anunciar nesta segunda que não vai participar da bancada do partido, que terminou em terceiro lugar (12,6%).

Petry deve ser uma parlamenta­r independen­te. Ela fez o anúncio durante uma entrevista coletiva e deixou a sala sem responder às perguntas dos jornalista­s. A decisão é resultado de meses de disputas internas, em que Petry se apresentav­a como representa­nte de uma ala mais moderada em um partido radical marcado pela xenofobia e pela aversão ao islã.

Ela se mostrou descontent­e com algumas das afirmações recentes de Alexander Gauland, outro líder da AfD, que disse que o partido iria perseguir Merkel e que a Alemanha deveria ter orgulho de seus soldados na Segunda Guerra (1939-45), quando o regime nazista matou ao menos 6 milhões de judeus.

A AfD deve ter 94 das 709 cadeiras do Parlamento. O tamanho da Casa varia de acordo com a eleição.

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