Folha de S.Paulo

ANÁLISE SocialDemo­cracia alemã precisa se reinventar

- SOLANGE REIS

FOLHA

Um dia duro e amargo. Assim o socialista Martin Schulz definiu a eleição de 2017 na Alemanha. Mesmo sendo o segundo mais votado (20%), o Partido SocialDemo­crata da Alemanha (SPD) obteve seu pior resultado nas urnas desde 1949.

A derrota de Schulz para Angela Merkel, líder democrata-cristã, só não teve sabor pior do que a mirrada vantagem do SPD sobre o terceiro colocado. Com mais de 12% dos votos, a Alternativ­a para Alemanha (AfD) coloca a extrema-direita no Parlamento pela primeira vez desde o fim do nazismo.

Na condição de presidente do SPD, Schulz anunciou que não formará coalizão com Merkel. O socialdemo­crata promete voltar à oposição. Bom para o partido, arriscado para a estabilida­de política.

É incerto que Schulz mantenha a presidênci­a do partido. Sua capacidade de energizar a legenda também suscita dúvidas. Ausente da política doméstica por 13 anos (tempo em que atuou no Parlamento Europeu), o socialista precisa se reconectar com os eleitores.

Mais antiga sigla do país, o SPD teve grandes nomes nos seus quadros —como Friedrich Ebert, Kurt Schumacher e Willy Brandt, para citar apenas três. Não há como contar a história do país sem passar pelo papel da Social-Democracia na construção do Estado de Bem-Estar Social e na normalizaç­ão das relações externas no pós-guerra.

Nos anos 2000, o SPD se distanciou de seus valores centrais. No governo de Gerhard Schröder, o Parlamento aprovou reformas que reduziram o desemprego, mas achataram salários e geraram desigualda­de social.

Europeísmo e direitos humanos, outras bandeiras da legenda, não parecem ter apelo em tempos de “brexit” e xenofobia. O SPD tem de reconquist­ar trabalhado­res urbanos e abrir frente nas zonas rurais, onde a AfD mais cresce.

Muitos eleitores o veem como parte do “centrão” alemão. Ignorar o canto da sereia e recusar a grande coalizão governista é o primeiro passo para resgatar as raízes. O segundo é projetar novas lideranças.

A escolha de Andrea Nahles, atualmente ministra do Trabalho, para liderar os 153 assentos ganhos no Parlamento confirma essa tendência.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil