Folha de S.Paulo

Coreia do Norte fala em guerra e ameaça aviões dos Estados Unidos

Para ditadura, tuítes de Trump são declaração de conflito; Casa Branca pode ter bombardeir­os na mira de mísseis

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Regime de Kim Jong-un tem desenvolvi­do projéteis que podem fazer estragos em um raio de 150 km

Dois dias depois de os EUA terem operado bombardeir­os no ponto mais próximo da costa norte-coreana neste século, Pyongyang anunciou que poderá derrubar aviões hostis mesmo que estejam fora de seu espaço aéreo.

“Todo o mundo deve lembrar claramente que foram os EUA que primeiro declararam guerra contra o nosso país”, disse o chanceler Ri Yong-ho, citando tuítes agressivos do presidente Donald Trump contra o regime do ditador comunista Kim Jong-un.

Washington chamou a acusação de “absurda”. “Nós não declaramos guerra à Coreia do Norte”, disse Sarah Sanders, porta-voz da Casa Branca. O chanceler norte-coreano está nos EUA para a Assembleia-Geral da ONU.

O sobrevoo de bombardeir­os B-1B Lancer, oriundos da ilha americana de Guam, ocorreu no sábado (23), com escolta de caças americanos F-15 baseados no Japão.

O local exato da ação não foi divulgado, mas os EUA dizem que ocorreram em espaço aéreo internacio­nal. “Nós temos o direito de voar, navegar e operar em todos os lugares onde é legalmente permitido”, disse o porta-voz do Pentágono, Robert Manning. DEFESA AÉREA O conceito é algo vago. Cerca de 20 países do mundo delimitam Zonas de Identifica­ção de Defesa Aérea fora de suas fronteiras. Ali, o país se reserva o direito de agir contra aviões que considere hostis, mas isso não é regido por convenções internacio­nais.

A Coreia do Norte tem uma, mas seus limites são incertos. Ela fica espremida entre as zonas oficiais japonesa, que corre entre 200 km e 300 km da costa norte-coreana, e a sul-coreana, que é uma linha horizontal acompanhan­do a fronteira mar adentro.

A zona não deve ser confundida com a FIR (Região de Informação de Voo, na sigla inglesa) de Pyongyang, maior e de formato mais irregular.

Nesta, o regime controla o tráfego aéreo civil, em acordo com normas internacio­nais, mas a maioria das empresas aéreas a evitam por causa de eventuais mísseis.

Os EUA podem considerar espaço aéreo internacio­nal qualquer coisa que não esteja sobre o território da Coreia do Norte. Neste caso, a ameaça dos norte-coreanos pode ser levada a sério.

Embora detenha uma constelaçã­o de antigos mísseis de defesa antiaérea de desenho soviético e chinês, nos últimos sete anos Kim tem desenvolvi­do localmente o modelo Pongae-5, ou KN-06.

Ele é uma versão nacionaliz­ada do venerando S-300 russo, que talvez não tenha as capacidade­s dos mais modernos modelos de Moscou, mas que poderia fazer um estrago sensível num raio de aproximada­mente 150 km.

Tudo depende do tipo de míssil a ser usado no lançador, que é móvel e mais difícil de ser localizado para um ataque preventivo. Não se sabe quantas unidades estão à disposição do país. O Instituto Internacio­nal para Estudos Estratégic­os, de Londres, conta 38 unidades do lançador soviético S-200, com alcance de até 180 km, mas com tecnologia dos anos 1960.

Para a defesa sobre o território, a situação norte-coreana não é melhor: são 180 S-75, mais 133 S-125 e vários modelos de lançamento portátil. Há cerca de 11 mil peças de artilharia antiaérea, de baixa eficácia.(IGOR GIELOW)

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Alex Brandon/Associated Press O presidente dos EUA, Donald Trump, durante cerimônia na Casa Branca, em Washington

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