BC pode ter de explicar uma inflação abaixo da meta
DE SÃO PAULO
Economistas e analistas de mercado estão cautelosamente otimistas com a economia, o que se reflete nas projeções para o PIB (Produto Interno Bruto) do próximo ano.
As estimativas de analistas reunidas pelo Banco Central para 2018 cresceram pela terceira semana consecutiva, mas ainda podem ser consideradas comedidas, em 2,3%.
A avaliação geral é que a recuperação econômica está em curso e deve ter continuidade, mas a falta de fôlego do mercado de trabalho e incertezas que devem preceder a sucessão presidencial de 2018 ainda não autorizam números mais fortes.
“O otimismo existe, mas falar em alta de 4% para o PIB do ano que vem parece um sonho”, diz Marco Casarin, economista-chefe para América Latina da consultoria britânica Oxford Economics.
As previsões para este ano estão melhores, diz, muito influenciadas por preços em níveis historicamente baixos— as expectativas para inflação estão abaixo de 3%— e os efeitos positivos disso sobre a renda e os gastos dos consumidores.
A economia também se beneficia do cenário externo bastante favorável aos emergentes, com dólar sob controle e commodities em alta.
Os próximos trimestres, no entanto, podem ser de turbulências. Os preços das commodities, diz ele, devem se estabilizar, e o dólar, que caiu 8% em relação a uma cesta de moedas desde junho, não deve depreciar o mesmo tanto daqui para frente.
Casarin diz ainda que o crescimento do PIB entre 3,5% e 4% em 2018 exigiria
Confirmadas as expectativas dos analistas de mercado ouvidos semanalmente pelo Banco Central, o Brasil terá neste ano inflação abaixo do limite de tolerância da meta fixada para o período.
Será a primeira vez que ocorre tal situação desde que foi criado o sistema de metas de inflação, em 1999.
As projeções do boletim Focus, divulgadas nesta segunda-feira (25) pelo BC, são de um IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de 2,97% no final de 2017.
A meta de inflação é de 4,5%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Por isso, se a inflação ficar abaixo de 3%, o BC estará descumprindo o objetivo fixado pelo próprio governo.
Desde 1999, a inflação ficou fora dos limites fixados em 2001, 2002, 2003 e 2015, mas sempre em um cenário de variação de preços excessiva, nunca o contrário.
A última vez que essa banda não foi cumprida, em 2015, a inflação oficial ultrapassou os 10% no final do ano. O teto era de 6,5%.
Se o cenário inédito de descumprimento “para baixo” se concretizar, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, terá que escrever uma carta ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, justificando as razões do ocorrido.
Deverá ainda detalhar as providências que serão tomadas para que a inflação volte ao patamar fixado pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), que é quem define o objetivo de política monetária, e dizer o prazo esperado para que isso aconteça. CHOQUE Além da recessão, que favorece a inflação sob controle, o choque no preço dos alimentos e bebidas, influenciado por uma safra recorde, ajudou o processo. Em 12 meses, esses produtos apresentam deflação de mais de 2%, segundo o IBGE.
Parte dos economistas acredita que o BC poderia ter começado antes, e executado com maior intensidade, o atual ciclo de cortes na taxa básica de juros, a Selic, hoje em 8,25% ao ano.
A expectativa da mediana dos analistas consultados pelo boletim Focus é que os juros encerrarão o ano em 7%, mas há quem aposte que há espaço para queda abaixo desse patamar.
No Relatório Trimestral de Inflação divulgado na última quinta-feira (21), o BC projetou um IPCA de 3,2% neste ano e 4,3% no próximo. Também apontou riscos para a continuidade da queda de preços e reforçou que vai reduzir o ritmo de queda dos juros a partir de outubro.