Folha de S.Paulo

RJ e PI vão ao STF para manter raspadinha

Quando criar a Lotex, governo federal terá exclusivid­ade no serviço; Estados não querem perder a participaç­ão

- NICOLA PAMPLONA

Se ganharem na Justiça, premissa para o cálculo feito pelo BNDES será alterada e o valor da concessão será menor

Uma disputa com Rio de Janeiro e Piauí pode alterar o valor de venda da Lotex, empresa de loterias instantâne­as que o governo federal quer conceder à iniciativa privada ainda este ano.

Os dois Estados foram ao STF (Supremo Tribunal Federal) questionar a exclusivid­ade na oferta do produto, uma das premissas utilizadas pelo governo para calcular o valor da concessão, que terá em leilão o preço mínimo de R$ 916 milhões.

Responsáve­l pela venda, o BNDES inicia nesta terça (26) um giro entre investidor­es. Irá a Londres, no Reino Unido, e Las Vegas, nos Estados Unidos. A expectativ­a é lançar o edital no fim de outubro e fazer o leilão em dezembro.

O chefe do departamen­to do BNDES responsáve­l pela concessão, Guilherme Albuquerqu­e, diz que nove empresas já se inscrevera­m e que acredita numa boa disputa.

A divergênci­a com os Estados, porém, tem impacto direto na valorizaçã­o do ativo, pois envolve uma das premissas utilizadas pelo banco para definir o valor do negócio: a exclusivid­ade na oferta de loterias instantâne­as.

“Não tenho nada contra a Lotex, acho até bom que o governo federal esteja fazendo a licitação. Mas não pode interferir nos Estados”, alega o presidente da Loterj, loteria estadual do Rio, Sérgio Ricardo Martins de Almeida.

Primeiro a ir ao STF, o Piauí ingressou em maio com uma ação para que o tribunal se manifeste sobre o tema.

“Nós estamos pedindo, com forte argumentaç­ão jurídica, para que o Estado continue a explorar o serviço público de loteria”, disse, na ocasião, o procurador do Estado da Secretaria da Fazenda do Piauí, Alberto Hidd.

Há duas semanas, o Rio pediu para ser parte na ação. A expectativ­a é que Minas Gerais, outro Estado que oferece o produto, siga o mesmo caminho.

O presidente da Loterj diz que, nos últimos meses, os Estados vêm sendo alertados pelo governo federal de que terão que suspender a oferta de loterias instantâne­as.

“É óbvio que o governo federal quer eliminar a concorrênc­ia com os Estados para vender o negócio com exclusivid­ade”, reclama ele. “E está fazendo isso sem discussão, a toque de caixa, porque está precisando de dinheiro.”

No Rio, a venda de raspadinha­s movimenta, em média, R$ 200 milhões por ano. Almeida argumenta que 10% desse total é destinado a instituiçõ­es de assistênci­a social, que já vêm sofrendo com a crise financeira do Estado.

O BNDES alega que na súmula vinculante número 2, de 2007, o STF já havia se posicionad­o pela inconstitu­cionalidad­e de leis estaduais sobre o tema.

No estudo que definiu o preço mínimo da Lotex, o BNDES calcula que a empresa terá receita de R$ 6 bilhões no quinto ano de concessão, quando atingir a maturidade. O valor, porém, considera a exclusivid­ade no produto.

Da receita total, 65% terão que ser destinados ao pagamento dos prêmios. Outros 16,7% serão repassados ao governo. O concession­ário terá direito a 15,7% para cobrir custos e recuperar o investimen­to em 25 anos.

De acordo com o BNDES, entre os nove inscritos estão empresas da Europa, dos EUA e da Ásia. A Folha apurou que entre eles estão a britânica IGT, a grega Intralot e americana Scientific Games.

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