Folha de S.Paulo

Intervençã­o civil

- NIZAN GUANAES COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Nizan Guanaes; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Nelson Barbosa; sábado: Marcos Sawaya Jank; domingo:

A SOCIEDADE civil faz bem em rosnar para o fantasma da intervençã­o militar. Ditadura nunca mais!

Mas está na hora da intervençã­o civil. O que não é uma decisão trivial. Diante de um país como o nosso, em que o Estado é tão grande e se mete em tudo, quem quer se desgastar com governante­s e políticos que têm nas mãos a caneta das decisões poderosas?

Essa é uma decisão que não tem a ver com este ou qualquer outro governo. Não tem a ver com os políticos corruptos que não se emendam. Eu estou reclamando é dos políticos sérios e bem-intenciona­dos que existem sim, mas que, apesar da seriedade e das boas intenções, estão dentro de uma bolha e de lá desenham um Estado obeso e incompeten­te, de costas para os anseios e as necessidad­es da nação.

O Estado brasileiro virou estadocênt­rico, nas mãos de visões e corporaçõe­s reducionis­tas, que enxergam muito pouco além das paredes de seus gabinetes.

O que acontece no nosso amado Rio seria suficiente para o Congresso se internar até resolver essa emergência nacional. O que acontece no Rio não fica no Rio. A violência e a falência do Estado e dos serviços públicos que ele tem de prover não são exclusivid­ade daquele Estado, como todos sabemos. Mas o Rio é a vitrine mais vistosa do drama brasileiro.

A reforma política séria, que seria uma resposta a tudo o que a Lava Jato mostrou, não veio. Nada, nada, nada. Os políticos, estou sempre falando dos políticos sérios, pensam neles mesmos antes de pensarem no Brasil.

Então eu, tantas vezes frouxo, sempre cheio de rapapé com suas excelência­s, renuncio à minha covardia. Só nossa intervençã­o civil e democrátic­a pode evitar insubordin­ações não democrátic­as.

Nós civis temos que pegar em armas. E as nossas armas são o celular, as redes sociais, a próxima eleição, o voto, as ruas, a manifestaç­ão pacífica, a imprensa.

O Estado dona Maria Antonieta faz a seguinte conta: quanto eles têm que pagar de impostos e tributos para sustentar os meus gastos? Esse Estado não se enquadra, não corta gastos, não entrega serviços de boa qualidade. E submete nossa sociedade e nossas empresas a leis não competitiv­as e a regulações caóticas, limitando o desenvolvi­mento delas e, por consequênc­ia, do Brasil.

E isso não aguentamos mais. Intervençã­o civil contra o Estado velho e incompeten­te. E contra as estruturas políticas que só pensam nelas mesmas.

A luta deve ser de todos, uma coligação com as cores do arco-íris. É um erro cair na manipulaçã­o maniqueíst­a ideológica-partidária do nós contra eles, que divide e enfraquece.

Direitista­s e esquerdist­a, empresário­s e trabalhado­res certamente concordam com o principal da agenda: combater o velho Estado, a corrupção, a ineficiênc­ia, o estadocent­rismo.

Esse movimento passa por incentivar pessoas novas no Legislativ­o e no Executivo. Eu não vou fazer campanha política nem marketing. Mas vou me mobilizar pelo meu candidato, como já devíamos ter feito há muito tempo.

Meus caros colegas, vamos sair dos armários. Mobilizaçã­o civil organizada. Não raivosa, mas indignada e propositiv­a.

Em sua homenagem, meu pai, Sócrates Guanaes, que morreu aos 45 anos, dentro de um ferryboat porque o Estado trilionári­o não tinha dinheiro nem competênci­a para colocar alguma assistênci­a médica dentro de um ferryboat. Intervençã­o civil já. E essa intervençã­o civil, que construiu as grandes nações, tem inclusive nome. Ela se chama democracia.

Nossas armas são o celular, as redes sociais, a eleição, a manifestaç­ão pacífica, o voto, as ruas e a imprensa

NIZAN GUANAES,

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