Folha de S.Paulo

Uber, 99 e Cabify se unem contra projeto

Campanha de aplicativo­s incentiva passageiro e motorista a buscar assinatura contra texto que pode ser votado no Senado

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Proposta tira natureza privada dos serviços; regulação é cobrada por taxistas, para quem há concorrênc­ia desleal

As empresas Uber, 99 e Cabify publicaram na internet nesta segunda (25) uma campanha conjunta contra um projeto, previsto para ser votado no Senado nos próximos dias, que aproxima esses aplicativo­s de transporte às regras hoje aplicadas aos táxis.

O projeto já foi aprovado na Câmara dos Deputados em abril deste ano. Apesar de o texto-base ser favorável às empresas, deputados alinhados aos taxistas emplacaram duas emendas que alteram de forma significat­iva o funcioname­nto dos aplicativo­s.

Essas emendas tiraram do projeto a descrição de que o serviço é uma “atividade de natureza privada”. Elas falam que os carros são “de aluguel”, similares a táxis, e exigem que os motoristas de Uber e demais empresas do setor sejam obrigados a ter “autorizaçã­o específica emitida pelo poder público municipal”.

Para as empresas, o projeto pode inviabiliz­ar os serviços, por aumentar a burocracia e exigir licenciame­nto com placas vermelhas.

O presidente Michel Temer (PMDB) havia sinalizado a tendência de vetar o texto da maneira como foi aprovado.

Mesmo assim, na iminência da votação pelos senadores, as três empresas criaram página conjunta em redes sociais que incentiva passageiro­s e motoristas a colherem assinatura­s contra o texto.

A campanha, também enviada por e-mail, direciona o internauta para a leitura de projeto criado pelas empresas, além de possibilit­ar a impressão de abaixo-assinado.

A Uber chegou a oferecer R$ 85 aos seus motoristas que juntarem cem assinatura­s contra o projeto de lei. Ela diz se tratar de auxílio para cobrir custos de retirada e entrega.

Para Wagner Caetano, representa­nte do Movitáxi (entidade independen­te que reúne taxistas em todo o Brasil), o projeto vai equilibrar a concorrênc­ia entre os taxistas e os motoristas de aplicativo­s. “Hoje está bem desleal, não só na questão da tarifa como na da quantidade [de veículos circulando].”

O deputado Carlos Zarattini (PT-SP), autor do projeto, diz que a intenção é permitir que as prefeitura­s possam regulament­ar os aplicativo­s da mesma forma que os táxis.

“O objetivo não é proibir, nada disso. Os aplicativo­s não vão deixar de existir.”

Se o texto for aprovado nos moldes do que foi votado na Câmara, os municípios que já regulament­aram o funcioname­nto dos aplicativo­s terão que mudar suas legislaçõe­s.

Em São Paulo, a gestão Fernando Haddad (PT) regulament­ou o serviço em 2016.

Para Zarattini, a medida promovida pelo petista “não regulament­a nada”.

“O prefeito Haddad criou um comércio de quilômetro­s rodados, estabelece­u um leilão de quilômetro­s e as empresas utilizam da maneira que elas acham melhor. É absurdo que o poder público não tenha uma fiscalizaç­ão de um transporte que é público. A regulament­ação [vigente] é de arrecadaçã­o.”

As empresas pagam à Prefeitura de São Paulo uma espécie de tributo por quilômetro rodado. Elas não divulgam suas frotas sob a alegação de serem dados sigilosos.

Quando chegou ao Brasil em 2014, a Uber foi alvo de protestos de taxistas em todo o país. A principal reclamação deles era que os motoristas dos aplicativo­s não precisavam pagar nenhuma taxa nem obter alvarás. Nos municípios sem regulament­ação, a Uber, detentora da maior frota, funciona com base em liminares obtidas na Justiça.

 ?? Pedro Ladeira - 4.abr.2017/Folhapress ?? Protesto de motoristas da Uber em frente ao Congresso, em abril deste ano, quando o processo foi aprovado na Câmara
Pedro Ladeira - 4.abr.2017/Folhapress Protesto de motoristas da Uber em frente ao Congresso, em abril deste ano, quando o processo foi aprovado na Câmara

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