Folha de S.Paulo

Governo foge de atritos e revoga decreto que extinguia a Renca

Reserva mineral do tamanho do ES foi criada no regime militar e se tornou centro de debate

- GUSTAVO URIBE TALITA FERNANDES LAÍS ALEGRETTI

Para Ministério de Minas e Energia, debate deve ser retomado ‘em outra oportunida­de’ e de forma democrátic­a

O presidente Michel Temer cedeu à pressão de ambientali­stas e decidiu nesta segunda-feira (25) revogar o decreto que extinguiu área de conservaçã­o na região amazônica conhecida como Renca (Reserva Nacional do Cobre Associados).

A decisão foi informada por meio de nota do Ministério de Minas e Energia, na qual o órgão defende que o debate deve ser retomado “em outra oportunida­de” e deve ocorrer “da forma mais democrátic­a possível”.

“As razões que levaram a propor a adoção do decreto com a extinção da reserva permanecem presentes. O país necessita crescer e gerar empregos, atrair investimen­tos para o setor mineral, inclusive para explorar o potencial econômico da região”, informa a pasta.

Nesta terça-feira (26), será publicado novo decreto no Diário Oficial da União, que revoga as iniciativa­s de Temer e restabelec­e as regras que vigoram desde 1984.

Esse será o terceiro decreto do peemedebis­ta sobre o mesmo tema desde que ele decidiu abrir a região para investimen­tos privados na área de mineração, em agosto.

A decisão de revogar o decreto foi tomada no final de semana. O presidente tratou do tema com o ministro Fernando Coelho Filho (Minas e Energia) e consultou a base aliada sobre o impacto político de extinguir a reserva.

O presidente do Senado Federal, Eunício Oliveira (PMDB-CE), foi um dos consultado­s que se manifestou contra a manutenção da extinção da reserva.

“Estou muito feliz e recompensa­do com a decisão do presidente Michel Temer em revogar o decreto que extinguia a Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), uma área com mais de 4 mi- lhões de hectares, na divisa entre o Amapá e o Pará”, escreveu Eunício na internet.

“O presidente mostrou sensibilid­ade política, administra­tiva, além de responsabi­lidade com o meio ambiente”, afirmou Oliveira.

A avaliação do Planalto foi que o tema criaria um desgaste desnecessá­rio junto à opinião pública e à classe artística no momento em que ele tenta barrar nova denúncia, desta vez por obstrução judicial e organizaçã­o criminosa.

Em nota nesta segunda (25), o Greenpeace afirmou que “não há governante absolutame­nte imune à pressão pública”. Segundo a entidade, o recuo é “uma vitória da sociedade sobre aqueles que querem destruir e vender a floresta”. RECUOS O primeiro decreto extinguiu a Renca, que possui reservas minerais de ouro, ferro e cobre. Ela foi criada em 1984, durante o regime militar.

O primeiro recuo do presidente foi ainda em agosto, quando apresentou um novo decreto sobre o tema, menos de uma semana depois de têla proposto, com mais detalhes da medida.

Depois, em mais um recuo, o MME (Ministério de Minas e Energia) informou que paralisou todos “procedimen­tos relativos a eventuais direitos minerários” na área da Renca. A extinção represento­u, inicialmen­te, a vitória do MME em uma queda de braço com o Ministério de Meio Ambiente.

Uma nota técnica de junho sobre a reserva na Amazônia —mais de um mês antes da publicação do decreto de Temer—, mostra que o Meio Ambiente se posicionou contra a extinção da reserva. A pasta afirmou que a “área é composta por uma floresta densa e exuberante, cujo entorno também está bem preservado.”

Nesse período, houve ainda uma série de decisões judiciais contrárias ao governo em várias regiões do país.

Em nota, o Ministério de Minas e Energia disse ainda que reafirma o seu compromiss­o e de todo o governo com a preservaçã­o do ambiente e também com as salvaguard­as previstas na legislação de proteção e preservaçã­o ambiental.

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Fotos Lalo de Almeida/Folhapress Vista aérea da região da Renca, que ocupa área equivalent­e à do Estado do Espírito Santo
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Mineradore­s ilegais buscam ouro em área protegida da Renca

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