Folha de S.Paulo

Demitido há onze meses, Vadão volta para a seleção feminina

Dirigentes de clubes se surpreende­m com contrataçã­o de técnico

- LUIZ COSENZO

Onze meses após ser demitido por Marco Polo Del Nero, presidente da CBF (Confederaç­ão Brasileira de Futebol), o treinador Oswaldo Alvarez, o Vadão, 61, está de volta ao comando da seleção brasileira feminina.

Ele foi anunciado como novo treinador da equipe nesta segunda-feira (25) após uma reunião com o presidente da entidade e com o coordenado­r técnico da modalidade, Marco Aurélio Cunha.

Vadão chega para substituir Emily Lima, 36, demitida na última sexta (22). Ele tinha deixado o cargo em novembro do ano passado após uma decisão do próprio Del Nero.

Na oportunida­de, o dirigente chegou a conversar com os seus pares, que não foram favoráveis à mudança.

“A decisão foi novamente do presidente [Marco Polo Del Nero]. No ano passado, ele quis dar uma oportunida­de para uma mulher no cargo. Agora, revendo os resultados, ele optou pelo retorno do Vadão, que tinha feito um bom trabalho”, explicou Cunha em entrevista à Folha.

A primeira passagem na seleção durou 30 meses. No período, o time foi eliminado nas oitavas de final do Mundial de 2015 e terminou a Olimpíada do Rio na quarta colocação.

Assim que deixou a seleção brasileira, Vadão ficou cinco meses sem clube. Retornou ao futebol masculino no final de março para dirigir o Guarani na reta final da Série A2 do Paulista. O time caiu na primeira fase, sem conseguir o acesso à elite do Estadual.

Na Série B do Brasileiro, dirigiu a equipe de Campinas até o final de agosto, quando foi demitido —deixou o Guarani na oitava colocação. APOIO A EMILY Demitida na última sexta, a treinadora Emiy Lima ganhou apoio das jogadoras da seleção brasileira.

Uma carta assinada por 24 atletas foi entregue ao coordenado­r da seleção brasileira feminina de futebol, Marco Aurélio Cunha, pedindo a permanênci­a da treinadora.

O movimento foi liderado pela lateral Rosana e pela atacante Cristiane.

A carta chegou a ser entregue para Marco Polo Del Nero, mas não foi o suficiente para demovê-lo da ideia.

Em dez meses no cargo, Emily obteve sete vitórias, um empate e cinco derrotas, aproveitam­ento de 56,4%.

Já Vadão comandou a seleção brasileira em 52 partidas. No total, conseguiu 30 vitórias, dez empates e 12 derrotas. Assim, encerrou sua primeira passagem com 64,1% de aproveitam­ento.

A contrataçã­o de Vadão surpreende­u dirigentes das equipes femininas do país.

“Não entendo a política que foi usada pela CBF para definir a demissão da Emily e a contrataçã­o do Vadão, que já havia sido demitido em novembro”, disse Doroteia Oliveira, diretora de futebol do Rio Preto, terceiro colocado no último Campeonato Brasileiro feminino.

João Amarildo, presidente do Iranduba, clube amazonense que terminou na quarta posição no Nacional, também critica a mudança.

“É muito estranha a forma como ela foi demitida sem disputar uma competição oficial assim como é estranha a contrataçã­o do Vadão. Ficamos sem entender o que a CBF quer”, afirmou.

Já o presidente do Santos, Modesto Roma Júnior, afirmou que o ideal era a contrataçã­o de uma treinadora estrangeir­a. A equipe alvinegra é a atual campeã nacional.

“Com a contrataçã­o do Vadão viramos 360º, mas o ideal era 180º”, afirmou.

De acordo com Cunha, a contrataçã­o de uma técnica estrangeir­a foi estudada pela CBF, mas o presidente “ainda vê interessan­te priorizar o futebol brasileiro”.

Vadão vai fazer sua estreia em outubro em um torneio amistoso na China.

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