Folha de S.Paulo

Realismo rodoviário

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Em todas as áreas contaminad­as pelo dirigismo excessivo nos últimos anos, contabiliz­aram-se fracassos dolorosos. Na infraestru­tura, em especial, desperdiço­use tempo com debates bizantinos e concessões à iniciativa privada mal feitas, cujos parâmetros agora precisam ser revistos.

Por meio de medida provisória, o governo definiu condições para a repactuaçã­o de privatizaç­ões rodoviária­s realizadas entre 2012 e 2014, no âmbito do Programa de Investimen­tos em Logística lançado na gestão de Dilma Rousseff (PT).

Trata-se de uma rendição à realidade. Os contratos originais exigiam investimen­tos pesados nos primeiros cinco anos. Contavam com cresciment­o econômico e crédito abundante, que inexistira­m.

Muitas concession­árias, assim, se viram em dificuldad­es, sem ter como honrar compromiss­os assumidos. Não se pode afirmar, porém, que não tenham sua parcela de culpa, dado que algumas aparenteme­nte aceitaram condições ruins na expectativ­a de realizar aditivos contratuai­s lucrativos.

Agora, acossadas por dívidas e ações judiciais, algumas precisam se desfazer dos negócios. A Odebrecht Transport, por exemplo, negocia a venda de sua participaç­ão na BR-163, rota de esco- amento de grãos de Mato Grosso.

Segundo a ABCR (Associação Brasileira de Concession­árias de Rodovias), cerca de R$ 12,5 bilhões em investimen­tos estariam represados. Para que haja interessad­os, porém, os requisitos contratuai­s precisam ser mais realistas.

As novas regras autorizam estender o prazo de investir para até 14 anos, com o mesmo valor para o pedágio. Apenas após o fim desse período haverá redução da tarifa ou do tempo de concessão. Prevê-se, assim, um alívio às empresas nos primeiros anos.

Espera-se que a mudança permita a retomada dos aportes em prazo mais curto do que seria o caso com soluções alternativ­as. A caducidade da concessão ou a retomada amigável para nova licitação, ambas previstas em lei, seriam opções mais demoradas e, por fim, piores para o consumidor, pois resultaria­m em pedágios maiores.

O país, de fato, não pode esperar. Segundo estudo da Empresa de Planejamen­to e Logística, estatal, são necessário­s R$ 132,6 bilhões em investimen­tos em ferrovias e rodovias que ainda não foram objeto de concessões e não contam com recursos públicos.

Trata-se de providênci­a fundamenta­l para amparar a lenta recuperaçã­o da economia brasileira.

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