Prudência energética
Brasil dispõe hoje de mais alternativas às hidrelétricas, mas, diante da escassez de água, governo deve estudar desde já medidas preventivas
Os lagos das usinas hidrelétricas estão mais vazios hoje do que no começo da primavera de 2000, o ano que antecedeu o racionamento energético de 2001, conhecido popular e imprecisamente como o período do apagão.
Em todas as grandes regiões do país, o nível médio dos reservatórios também é inferior ao registrado nos anos secos de 2014 e 2015.
Os números impressionam e certamente devem despertar preocupação e providências cautelares por parte das autoridades do setor elétrico e dos governos federal e estaduais. A perspectiva de chuvas para outubro tampouco se mostra favorável.
É preciso, entretanto, dar o devido contexto a tais dados de escassez, a fim de evitar conclusões tão drásticas como enganosas, que podem provocar mais alarmismo do que medidas racionais de contenção do consumo de água e luz.
O país dispõe agora de outras fontes de energia elétrica. Há uma década, a dependência em relação ao potencial hidráulico chegava a cerca de 83%; hoje, são 65%. O aproveitamento dos ventos resultava em mísero 0,1% da energia; atualmente, as eólicas respondem por 6% da produção nacional.
Há reservas a serem acionadas, como os geradores das termelétricas. Além do mais, o país dispõe de mais linhas de transmissão, o que facilita a redistribuição de eletricidade entre as regiões, racionalizando o uso da água e evitando restrições de consumo.
Ainda assim, há sinais de alerta a serem considerados. Nesta sexta (29), a Agência Nacional de Energia Elétrica anunciou a chamada bandeira vermelha patamar dois, um valor adicionado às tarifas.
Pela primeira vez desde 2015, quando esse sistema foi adotado, chega-se ao nível mais elevado de tarifação extra, um meio de indicar o aumento do risco de escassez de água —e da necessidade de recorrer a fontes mais caras.
A alta do custo da eletricidade para as empresas é particularmente preocupante em um momento de recuperação incipiente da economia, após brutal recessão.
Desde 2014, o país vive sob seca intermitente; no Nordeste, o fenômeno perdura desde 2012. Há racionamento de água no Distrito Federal desde o início do ano.
Apenas no início do período habitual das precipitações no Sudeste e no Centro-Oeste será possível ter mais clareza quanto à extensão da crise hídrica. Não convém, todavia, esperar tanto —ou simplesmente torcer pelas chuvas do verão, como fez o governo FHC em 2000.
De maneira prudente e tecnicamente esclarecida, é preciso estudar desde já planos e campanhas de racionalização do consumo de eletricidade e de água.