Folha de S.Paulo

Planos para a Europa

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O presidente Emmanuel Macron, da França, pretendia apresentar sua visão para a integração europeia depois de assegurada uma consagrado­ra vitória eleitoral da chanceler alemã, Angela Merkel.

Em vez de um resultado triunfante, porém, a recondução de Merkel para um quarto mandato foi tisnada pela ascensão do partido de direita radical AfD, que conquistou 12,6% dos votos e se tornou a terceira maior força no Parlamento.

Com o enfraqueci­mento dos socialista­s, sócios menores da coalizão que governou o país nos últimos anos, resta à CDU, legenda democrata-cristã da chanceler, tentar a formação de uma aliança inédita com liberais e verdes, distantes entre si ideologica­mente.

A margem de manobra de Merkel para avançar numa parceria com Macron se estreitou, ademais, em razão da posição contrária dos liberais e até de algumas alas de seu partido ao aprofundam­ento da integração continenta­l.

Por outro lado, os dois líderes sabem que há uma oportunida­de a ser aproveitad­a para ampliar a cooperação. Depois de quase uma década de crise, a economia na zona do euro passa por um bom momento, com cresciment­o próximo a 2,5% e queda do desemprego.

Num passo que demonstra intenção de maior protagonis­mo, Macron expôs seu plano ambicioso para a União Europeia em longo discurso na Universida­de Sorbonne, sem aguardar a configuraç­ão política que emergirá das complicada­s conversas partidária­s na Alemanha —que devem se prolongar por várias semanas.

Na economia, reafirmou a posição francesa favorável à criação de um orçamento comum, sob direção de um ministro de Finanças com jurisdição sobre toda a zona do euro. Tal passo é tido como essencial para fortalecer os pilares da moeda única a longo prazo.

O presidente francês adota posição cautelosa, porém, ao dizer que não pretende partilhar recursos com governos perdulário­s, a grande preocupaçã­o dos alemães. A estratégia seria criar condições para minorar o sofrimento social em momentos de crise e desemprego e, com isso, enfraquece­r plataforma­s populistas.

Merkel, de sua parte, mostrouse receptiva às propostas, pois entende que a janela de oportunida­de para consolidar seu legado próeuropeu não permanecer­á aberta por muito mais tempo.

Se o populismo foi derrotado na Holanda e na França, o avanço da AfD na Alemanha e o crescente nacionalis­mo verificado em países do Leste Europeu são lembretes de que o vírus permanece ativo.

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