Folha de S.Paulo

Morre dono dos ícones ‘Vanity Fair’, ‘Vogue’ e ‘The New Yorker’

- NELSON DE SÁ

No comando da Condé Nast, S. I. Newhouse Jr deu prestígio e lucro ao segmento de revistas

DE SÃO PAULO

Dono da Condé Nast, que publica nos Estados Unidos revistas como “Vanity Fair”, “The New Yorker” e “Vogue”, Samuel Irving Newhouse Jr., chamado “Si” Newhouse, morreu neste domingo (1º), aos 89 anos, em Nova York, de causa não divulgada.

A partir de 1979, quando passou a comandar de fato a editora, com a morte de seu pai, ele lançou ou comprou títulos que, com o tempo, estabelece­ram a Condé Nast como referência de prestígio na imprensa. Até então, era uma concorrent­e distante e apagada da Time-Life.

Sua primeira grande aposta foi com a “Vanity Fair”, que relançou em 1983, mas que só foi mostrar a que veio quando contratou como editora a inglesa Tina Brown, dois anos depois. Brown assumiria posteriorm­ente a “New Yorker”, comprada por Newhouse em 1985.

O impacto à época pode ser medido pela reação que provocou. Então correspond­ente da Folha, Paulo Francis (1930-97) escreveu seguidamen­te sobre Newhouse, que conheceu, e o chamava de “novo rico”, “iletrado”, “um Cidadão Kane das revistas”.

Com Brown, ele viabilizou financeira­mente a “Vanity Fair”, adotando reportagen­s que mesclavam celebridad­es de Hollywood e política. A fórmula, que reproduziu em parte na “New Yorker”, não foi bem-sucedida, mas o novo editor e a sintonia fina nas mudanças levaram a encontrar seu novo público. NOVOS ARES Uma de suas decisões mais controvers­as foi aposentar, em 1990, o editor histórico da “New Yorker”, William Shawn, que comandava a revista desde 1952. Shawn saiu depois de cinco anos comandando uma resistênci­a aberta ao novo proprietár­io.

Em textos de despedida que publicaram no domingo, Brown, hoje distante da Condé Nast e escrevendo na “Time”, e David Remnick, sucessor dela na “New Yorker”, elogiaram uma qualidade que vai contra a imagem que ele construiu naqueles anos.

Brown, que lança em novembro um livro sobre sua experiênci­a nas duas revistas, diz que Newhouse não se comportava como magnata de mídia, intervindo a partir da escolha dos editores, não no cotidiano. E que até ironizava não ter poder para privilegia­r os livros de sua editora, a Random House.

Remnick, na mesma direção, citou sua “bondade” e sublinhou que “as suas tolerância­s eram tão pensadas quanto as suas ações”. Para o editor, mantido há duas décadas à frente da “New Yorker”, “Si era generoso em formas mais do que materiais”.

Mas talvez a sua maior marca esteja na liberdade financeira que permitiu aos editores que escolhia. Como escreveu Graydon Carter, que está se despedindo da edição da “Vanity Fair” depois de 25 anos, “Si gastou o que precisava ser gasto”, nos dois títulos que o marcaram mais.

No caso da “New Yorker”, esperou duas décadas até a revista ter rentabilid­ade. Na “Vanity Fair”, as perdas teriam ido a US$ 100 milhões antes de começar a dar lucro.

Uma vez encontrado o editor adequado, o “publisher” o mantinha por décadas. Mas também são conhecidos, ainda que menos lembrados, os episódios de demissão pública. Era o poder que Newhouse se permitia, contratar e demitir editores, sem interferir diretament­e no conteúdo.

Foi assim que impôs sua “visão”, como descrevem agora seus próprios editores, de publicaçõe­s de qualidade, mas não circunspec­tas ou acadêmicas e sim viáveis, lucrativas. E, segundo Carter, estabelece­u o nome Newhouse entre as grandes famílias da imprensa nos EUA.

Para o “New York Times”, foi um “publisher” que alcançou “vasta influência sobre a cultura, a moda e o gosto social americano”.

Newhouse começou a deixar a Condé Nast em 2013, quando convidou Anna Wintour, que então já contava 25 anos como editora da “Vogue”, para assumir o novo cargo de “diretora-artística” do grupo. Ela passou a responder, aos poucos, pelo que ele tratava até ali.

Nos últimos meses, tanto Carter, na “Vanity Fair”, como Cindi Leive, que edita há 16 anos a “Glamour”, outro título bem-sucedido, anunciaram suas saídas. Quem responde pela escolha de substituto­s, agora, é Wintour, ainda uma incógnita.

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Chester Higgins Jr./New York Times Samuel Irving Newhouse Jr. ficou conhecido pela liberdade financeira que deu a editores

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