Folha de S.Paulo

Candidatos avulsos pelo bem da democracia

Eleger nomes independen­tes nas eleições de 2018 pode contribuir para que partidos se reinventem e se discuta novo marco legal para siglas

- ROBERTO LIVIANU www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Na semana passada, divulgou-se que, dentre os 137 países avaliados no Índice de Competitiv­idade Global pelo Fórum Econômico Mundial de Davos, o Brasil se encontra no último lugar no quesito confiabili­dade pública nos políticos.

Em 2016, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), do alto de suas 13 investigaç­ões criminais, réu por peculato no Supremo Tribunal Federal, trabalhou muito pela aprovação de projeto para atualizar a lei de abuso de autoridade. Ao olhar o texto, só crimes de juízes, membros do Ministério Público e policiais. Não são previstos, ali, crimes de senadores ou deputados.

Dois anos atrás, o jurista Klaus Roxin esteve aqui palestrand­o e afirmou solenement­e que só no Brasil existia a figura absurda da prescrição retroativa e que isto talvez ajudasse a explicar o 7x1 para a Alemanha. Detalhe: no ano passado, 2,6 milhões de pessoas levaram à Câmara dez medidas contra a corrupção, pedindo que fosse aprimorado este controle —uma delas propunha a extinção da prescrição retroativa.

As propostas foram destroçada­s, sem dó, em 29 de novembro do ano passado. E andam no Congresso a velocidade de cágado.

Além disso, a discussão sobre a reforma política, em vez de trazer os pequenos distritos ingleses que barateiam campanhas e aproximam eleitores dos representa­ntes ou de falar em limite ao número de mandatos no Legislativ­o para evitar o enraizamen­to no poder, quis permitir doações ocultas de campanha e proibir prisões de políticos oito meses antes das eleições (emenda Lula) —além do distritão de Vanuatu, Afeganistã­o, Kuait e Emirados Árabes Unidos—e quase aprovou R$ 1,8 bilhão para financiar campanhas.

Não se legisla para o bem comum, daí o cerne da aguda crise de representa­tividade política e dos números vergonhoso­s de Davos.

Nesta nossa democracia formal, os partidos políticos se deteriorar­am de forma crônica, deixando de ser instrument­os legítimos de representa­ção social. Teses de doutorado vêm demonstran­do cientifica­mente que via de regra se transforma­ram em empresas que se constituem para abocanhar a fatia do fundo partidário e negociar seu tempo na propaganda de TV, não possuindo militância de verdade —o povo não sabe qual a ideologia dos partidos políticos no Brasil.

Até porque mudam de nome como mudamos de roupa e, com uma bela ação de marketing, tudo fica estiloso. Hoje existem 35 partidos, e não há 35 ideologias. Tanto que até outro dia o Partido da Mulher Brasileira possuía um parlamenta­r homem, e o Partido Ecológico Nacional teve seu presidente processado por crime ecológico.

Sem esquecer que os partidos, sem cerimônia, dão a legenda para fichas-sujas contra a Lei da Ficha Limpa, como os casos de José Riva (PSD-MT), José Roberto Arruda (PRDF) e Neudo Campos (PP-RR), todos presos por corrupção.

Neste contexto, parece razoável pensar em admitir que pessoas possam exercer seus direitos políticos de candidatur­a independen­temente de partidos, como se admite hoje em quase todo o mundo e como prevê o pacto de San José da Costa Rica, do qual o Brasil é signatário, que não exige filiação partidária para uma candidatur­a política. Tratase de um direito natural e universal.

A eleição de pessoas independen­tes, sem partido, no pleito de 2018 pode contribuir para que partidos se reinventem e para que se discuta um novo marco legal para as siglas no Brasil, revigorand­o nossa judiada democracia.

A Procurador­ia-Geral da República (PGR) é favorável. O STF, nesta quarta, está com a palavra. ROBERTO LIVIANU,

Coitados dos americanos que não podem investir aqui e pagar menos do que pagam aos seus cidadãos. Capitalism­o para eles é só lucro, não tem despesa nem custo. E ninguém pode pedir indenizaçã­o, como fazem americanos malvados. Quem sabe nossos deputados não se comovem e nos tiram mais alguns direitos, tão nocivos a esses empresário­s (“Reforma trabalhist­a brasileira desanima investidor­es nos EUA”, “Mercado”, 3/10).

SÉRGIO RIBEIRO

Criança do dia Sensaciona­is essas entrevista­s com crianças. Uma bela homenagem e, ao mesmo tempo, uma ótima oportunida­de de dar voz a elas (“Rejeitar refugiados é abolir uma vida diferente da sua”, “Mundo”, 3/10)!

MARIA THEREZZA TERRA

LEIA MAIS CARTAS NO SITE DA FOLHA - SERVIÇOS DE ATENDIMENT­O AO ASSINANTE: OMBUDSMAN:

RESPOSTA DA JORNALISTA NATÁLIA PORTINARI -

A Alumini (antiga Alusa) foi declarada inidônea na Lava Jato sob a acusação de ter pago R$ 72 milhões entre 2004 e 2013 em propina a um ex-gerente da Petrobras. A prefeitura e o consórcio FM Rodrigues/CLD contestam que a Quaatro seria uma empresa distinta da Alumini. O texto deixa claro que a relação entre Alumini e Quaatro se faz pelos sócios, que são os mesmos.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil