Folha de S.Paulo

PSDB exige saída de relator, que finca o pé

Líder do partido estabelece até hoje prazo para Bonifácio de Andrada entregar o cargo, mas deputado resiste

- DANIEL CARVALHO

Disputa é motivada por racha tucano quanto ao posicionam­ento sobre denúncia de obstrução e quadrilha contra Temer

O PSDB estabelece­u a manhã desta quarta-feira (4) como data limite para que o deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) deixe a relatoria da denúncia contra o presidente Michel Temer na CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) da Câmara.

O deputado, no entanto, já disse que, por vontade própria, não abre mão da função.

“Pedi a interlocut­ores que fizessem mais uma tentativa. Vou insistir até o último minuto para que ele entenda o que está acontecend­o. Se ele resolver voltar atrás, ótimo. Acho muito bom”, disse o líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP).

Questionad­o sobre a possibilid­ade de retirar Andrada da CCJ, desconvers­ou.

Aos 87 anos, o governista Bonifácio de Andrada foi indicado pelo presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDBMG), contrarian­do apelo de Tripoli e agravando o racha no PSDB. O partido não se entende sobre apoiar ou não o governo de Michel Temer.

“Seja qual for o relatório, vai criar animosidad­e com um dos grupos que está lá. Vai me criar um problema”, afirmou Tripoli.

Tucanos que integram a força-tarefa do partido que tenta convencer tanto Andrada como Pacheco a recuar reclamaram do constrangi­mento provocado pela situação.

“Como meu partido está dividido, qualquer lado que fosse escolhido para ser relator constrange­ria o outro lado. Talvez tenha faltado um pouco de sensibilid­ade. Estamos, sim, constrangi­dos”, diz Fabio Sousa (PSDB-GO).

Governista­s defenderam o relator. “Ficaria muito ruim para a Comissão de Constituiç­ão e Justiça apresentar uma suspeição sobre alguém que não a motivou”, afirmou Danilo Forte (PSB-CE).

Pacheco disse ter escolhido Andrada porque ele preenche requisitos técnicos. “Peço desculpas ao PSDB se causei constrangi­mento partidário”, disse Pacheco.

Os apelos dos correligio­nários não haviam surtido efeito até esta terça, quando Bonifácio fez sua primeira reunião com Pacheco como relator da denúncia contra Temer e dois ministros, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral).

“Se alguém estiver em desacordo com a minha presença como relator, tem que falar com o presidente da comissão. Ele que me designou, ele que pode me destituir. Eu, por mim próprio, não devo me afastar. Seria uma demonstraç­ão pública de falta de compromiss­o com a própria Câmara dos Deputados”, disse Andrada à Folha.

O relator voltou a dizer que só deixa a função por ordem de Rodrigo Pacheco. Ele também minimizou a pressão de seus colegas de partido.

“Faz parte do processo político. Tem grupos que são numa direção, tem grupos que são em outra. Isso não me assusta. Com 50 anos de vida pública, isso é mais um fato.”

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