Folha de S.Paulo

Candidatur­a avulsa é vital para fortalecer nossa democracia

ADVOGADO VAI NESTA QUARTA AO SUPREMO PARA DEFENDER QUE PESSOAS SEM FILIAÇÃO PARTIDÁRIA POSSAM DISPUTAR ELEIÇÕES

- MARCO RODRIGO ALMEIDA

DE SÃO PAULO

Desiludido com os partidos políticos, o advogado Rodrigo Mezzomo, 47, adotou a causa das candidatur­as independen­tes no Brasil.

Em 2016, tentou se candidatar, sem filiação partidária, à Prefeitura do Rio de Janeiro. Acabou barrado pela Justiça Eleitoral.

Em junho deste ano, o caso chegou ao Supremo Tribunal Federal, que deverá analisar o mérito nesta quarta (4). Uma decisão favorável ao advogado abriria brecha para que não filiados de todo o país disputasse­m eleições.

O veto no país aos candidatos sem partido remonta a um decreto-lei de 1945, no final da ditadura de Getúlio Vargas. Trata-se de um modelo raro no mundo (veja quadro ao lado).

Mezzomo também recorreu à OEA (Organizaçã­o dos Estados Americanos) contra a proibição, alegando que o Brasil é signatário da Convenção Americana de Direitos Humanos, que não prevê a vinculação partidária como requisito para ser votado. Folha - O senhor já foi filiado ao PSDB e ao Novo. Por que resolveu defender as candidatur­as independen­tes?

Rodrigo Mezzomo - Porque os partidos apodrecera­m. Trata-se de um ambiente hostil, sem democracia interna, em que o domínio dos caciques é soberano. Quem não faz parte da cúpula não recebe nenhum apoio, não tem chance alguma. A candidatur­a já nasce fadada ao fracasso. É possível abrir mão dos partidos em uma democracia?

Não, no mundo inteiro os partidos são importante­s. A candidatur­a avulsa não pretende aniquilar as legendas, mas sim aprimorá-las. Precisamos de partidos melhores. Alega-se que as candidatur­as independen­tes poderiam acarretar efeitos nocivos, como a excessiva personaliz­ação da política e o enfraqueci­mento das siglas.

São argumentos ridículos. O personalis­mo sempre existirá. E os partidos já estão debilitado­s. A possibilid­ade de candidatur­as avulsas seria uma saída para melhorar nossa democracia. Liberar os independen­tes exigiria mudanças drástica nas regras eleitorais, já que a distribuiç­ão de cadeiras no Legislativ­o leva em conta as legendas e coligações?

Não, não creio. A mudança funcionari­a mesmo no atual modelo. Basta aplicar o quociente eleitoral ao independen­te, do mesmo modo como ocorre com os partidos. Quem atingir essa marca está dentro; quem não atingir, está fora. Esse modelo não acabaria favorecend­o os famosos e ricos, já que os avulsos não teriam acesso a verbas do fundo partidário para suas campanhas?

Isso já ocorre, independen­te do modelo. As celebridad­es sempre terão, em tese, vantagem. O que nós precisamos é acabar com todo tipo de financiame­nto público aos partidos. Isso ajudaria a reduzir o número de siglas. Sobrariam apenas as com alguma consistênc­ia. A política deve ser pautada por ideias, não por recursos.

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