Folha de S.Paulo

Atirador de Las Vegas instalou câmeras em hotel e alterou arma

Polícia afirma que Stephen Paddock usou mecanismo para atirar mais rápido em multidão

- FERNANDA EZABELLA

Autoridade­s investigam ainda remessa de US$ 100 mil às Filipinas, onde está a namorada do autor do massacre

A polícia de Las Vegas anunciou nesta terça-feira (3) que Stephen Paddock, autor do massacre que deixou 58 mortos e mais de 500 feridos no domingo (1º), instalou câmeras para acompanhar a movimentaç­ão dentro e fora de seu quarto no hotel Mandalay Bay, de onde atirou numa multidão que assistia a um show de música country.

Outros indícios mostraram que a preparação do ataque foi sofisticad­a. Segundo o xerife local, Joe Lombardo, 12 das armas usadas tinham o mecanismo “bump stock”, que permite disparar tiros de forma mais rápida, emulando um artefato automático.

Com o equipament­o, Paddock alvejou por ao menos nove minutos, quase ininterrup­tamente, uma área em que havia mais de 20 mil pessoas. No quarto de hotel e em suas duas casas em Mesquite e Reno, em Nevada, foram encontrada­s 47 armas.

Lombardo informou ainda que Marilou Danley, namorada do atirador, está nas Filipinas, país natal dela, mas mantém contato com as autoridade­s americanas.

A polícia investiga uma remessa de US$ 100 mil (R$ 315 mil) feita pelo atirador às Filipinas em 25 de setembro, três dias antes de se hospedar em Las Vegas.

Na terça, a cidade voltava ao normal, apesar de um policiamen­to maior ao longo da avenida principal e após uma noite com cancelamen­to de alguns shows.

O quarteirão do Mandalay Bay permanecia fechado para carros e pedestres, enquanto uma equipe limpava o asfalto com jatos de água. “Estão tirando as marcas de sangue”, disse um policial.

Dezenas de equipes de TV do mundo todo, além de curiosos, permanecia­m no local, onde foram improvisad­os memoriais com velas, flores, balões e bilhetes.

Os suíços Alden e Tiziana Murati, em Las Vegas pela primeira vez, disseram que o massacre assustou, mas não alterou seus planos nem a admiração pela cidade. “Foi uma sensação estranha, mas a vida continua. A única diferença que notamos foi a presença de mais policiais nas ruas”, afirmou Tiziana, 30.

Na segunda (2), hotéis e teatros haviam cancelado apresentaç­ões do Cirque du Soleil e do Blue Man Group. A programaçã­o foi retomada na terça, com destaque para Céline Dion, enquanto Jennifer Lopez se apresenta na quarta.

“O movimento caiu uns 30%. Nossas filas hoje [segunda] foram só para reembolsos”, disse uma funcionári­a de uma bilheteria para shows. “O medo é que venham menos turistas, mas duvido que isso aconteça.”

Duas casas de tiro, estabeleci­mentos bastante populares na região (leia mais na pág. A13), também fecharam suas portas. A Machine Guns Vegas, que só reabriria nesta quarta, divulgou nota condenando o atentado e pedindo mais controle de armas.

“Muitos fatores contribuír­am para este evento trágico, mas não há dúvida de que a possibilid­ade de o atirador atingir tanta gente foi fortemente determinad­a pelos tipos de armas a que ele teve acesso”, dizia o comunicado.

“Concordamo­s que a NRA [Associação Nacional do Rifle, principal lobby pró-armas dos EUA], o governo federal e os Estados têm a responsabi­lidade de continuar a maximizar esforços no sentido de manter tais armas fora do alcance das pessoas erradas.” CAMPEÃ DO TURISMO Com população de 632 mil habitantes, Las Vegas está entre as cidades mais visitadas dos EUA. Recebeu mais de 42 milhões de turistas em 2016, 19% deles estrangeir­os. A título de comparação, Orlando (Flórida), a mais visitada do país, acolheu 60 milhões de pessoas no ano passado.

Na noite de segunda, 24h após o massacre, muitos turistas caminhavam pela avenida principal, a Strip, que tem o imponente Mandalay Bay em uma de suas extremidad­es. Alguns circulavam com sacolas, tiravam selfies ou carregavam os populares drinques de copos enormes.

Tudo parecia de volta ao normal, a não ser por muitos dos letreiros com pedidos de doações de sangue, o telefone de emergência para familiares das vítimas e agradecime­ntos aos bombeiros e policiais que chegaram primeiro à cena do crime.

Las Vegas

 ?? Drew Angerer/Getty Images/AFP ?? Flores depositada­s no Las Vegas Boulevard, perto do local do ataque a tiros de domingo (1º) que deixou saldo de 58 mortos e mais de 500 feridos
Drew Angerer/Getty Images/AFP Flores depositada­s no Las Vegas Boulevard, perto do local do ataque a tiros de domingo (1º) que deixou saldo de 58 mortos e mais de 500 feridos

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