Folha de S.Paulo

Democratas fazem nova ofensiva por controle de armas

Opositores de Trump querem comissão para discutir violência e votação de projeto para proibir acessório

- ISABEL FLECK

Pressão deve esbarrar novamente nos rivais republican­os, que têm impedido aprovação de limites no Congresso

Um dia após o maior ataque a tiros da história dos EUA, o presidente da Câmara, o republican­o Paul Ryan, disse nesta terça (3) que não está em seus planos avançar com a votação de um projeto de lei que tornaria mais fácil a compra de silenciado­res.

“Não está programado para [ser votado] agora, não sei quando será”, disse Ryan, diante da pressão que os parlamenta­res republican­os vêm enfrentand­o desde o massacre perpetrado pelo aposentado Stephen Paddock, 64, durante um festival de música country em Las Vegas.

Mesmo com poucas chances de sucesso, os parlamenta­res democratas querem mais do que o adiamento da votação. A líder opositora na Câmara, Nancy Pelosi, pediu a Ryan a criação de uma comissão para discutir a violência com armas.

Os democratas —que nesta quarta (4) protestarã­o nas escadas do Congresso— querem ainda que seja discutido na Casa um projeto da senadora Dianne Feinstein para proibir os chamados “bump stocks”, dispositiv­os que transforma­m armas semiautomá­ticas em automática­s —e que foram usados por Paddock.

O histórico de qualquer lei sobre controle de armas no Congresso, porém, mostra que é pouco provável que esse tipo de discussão avance.

Em 2016, após um atirador matar 49 pessoas numa boate em Orlando, na Flórida, o projeto “não voe, não compre”, que propunha a proibição de venda de armas para as pessoas que estão na lista de risco de terrorismo do FBI (polícia federal americana), por exemplo, foi barrado no Senado, mesmo com 86% de apoio entre os eleitores.

Em anos anteriores, textos que previam o limite ao tamanho de pentes de munição e a extensão das checagens de antecedent­es criminais em vendas de armas on-line e em feiras também naufragara­m em uma das casas legislativ­as.

“Eu não vejo o Congresso agindo em nenhuma medida de controle de armas, apesar de evidências estatístic­as que mostram que as altas taxas de porte de armas explicam por que países como os EUA têm tantos assassinat­os em massa”, diz Adam Lankford, professor do Departamen­to de Criminolog­ia e Justiça Criminal da Universida­de do Alabama.

Gary Kleck, especialis­ta em Justiça criminal da Universida­de Estadual da Flórida, discorda do argumento de que um controle maior sobre a venda ou o porte garantiria menos mortes.

“Esse assassino, em particular, usou algo que já é ilegal no país. Além do mais, há indicação que o único registro criminal do atirador era uma infração de trânsito, que não é o tipo de crime que faria com que ele, pelo controle que defendem, fosse proibido de comprar armas.”

O apoio recebido de lobistas pró-armas por parlamenta­res da maioria republican­a também não contribui para que o debate sobre um maior controle avance.

Segundo o think tank Center for Responsive Politics, que monitora o financiame­nto a legislador­es, grupos que defendem o direito ao porte de armas, como a NRA (Associação Nacional do Rifle) e a Gun Owners of America, doaram US$ 5,9 milhões para campanhas republican­as em 2016. Para os democratas, o valor foi de US$ 106 mil.

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