Folha de S.Paulo

Governador­a de Tóquio cria partido e cativa eleitores

Ainda sem oficializa­r candidatur­a, Yuriko Koike está em 2º lugar nas pesquisas para ser a próxima premiê

- ANA ESTELA DE SOUSA PINTO

Em uma semana, a líder japonesa atraiu dezenas de políticos e anunciou que lançará ao menos 50 candidatos

Base sólida e golpes rápidos. Foi assim que a mulher mais poderosa do Japão, a governador­a de Tóquio, Yuriko Koike, já atrapalhou duas vezes as manobras políticas do premiê Shinzo Abe e promete atrapalhar uma terceira.

Aos 65, com estatura mediana e figurino ocidental, Koike conquistou uma das capitais mais importante­s do mundo por caminhos diferentes dos da média das japonesas.

Neta do fundador de uma companhia mercante nos EUA e filha de um empresário com relações intensas com o Oriente Médio, foi desde cedo exposta a culturas estrangeir­as.

Mudou-se aos 20 para o Egito, convencida pelo pai de que entender os árabes era vital numa economia dependente da importação de petróleo.

Fluente em inglês e árabe, Koike encontrou espaço na TV. Entrevisto­u líderes e foi assistente de âncoras, até assumir uma bancada, em 1988, como a primeira apresentad­ora do “World Business Satellite”. ‘GÊNIO DA MÍDIA’ Colegas e jornalista­s a descrevem como “gênio da mídia”: faz aparições teatrais sem que pareçam calculadas.

Desde que entrou para a política, em 1992, esteve perto de políticos poderosos, como os ex-primeiros-ministros Morihiro Hosokawa e Junichiro Koizumi, mas criou carreira e estilo próprios. Mais de uma vez abriu mão de posições seguras ou trocou de partido para avançar mais rápido.

Ao disputar o governo de Tóquio, em 2016, foi questionad­a sobre uma frase de Hillary Clinton, que chamava de “telhado de vidro” os obstáculos à ascensão feminina. “Não são telhados de vidro. São placas de ferro”, rebateu.

Quando a Folha a entrevisto­u no Brasil, poucas semanas depois de sua vitória, Koike falou sobre as obras que deixarão Tóquio acessível aos Jogos Olímpicos de 2020: “Tirar as barreiras físicas é importante, mas o fundamenta­l é derrubar as barreiras mentais.”

O anúncio de seu novo partido em 25 de setembro foi descrito como um dos momentos em que Koike impôs sua vontade em um golpe rápido, mas não intempesti­vo.

Convocou uma entrevista de surpresa, horas depois de Abe ter antecipado eleições legislativ­as, e foi direto ao ponto: “Declaro que um novo partido será formado”.

Para analistas, o movimento foi uma reação ao que ela considerav­a lentidão na formação do partido, que não atraía membros de correntes diversas, como ela gostaria.

Deu resultado. No dia do anúncio, o Kibo no To (Partido da Esperança, PE) ganhou apoio de Mineyuki Fukuda, ministro do gabinete de Abe.

Em uma semana, a governador­a atraiu dezenas de políticos, anunciou que lançará ao menos 50 candidatos e já aparecia com quase 15% das intenções de voto (contra 24% do PLD, o Partido Liberal Democrata) em pesquisa feita no sábado (30) e no domingo (1º) pelo instituto Kyodo.

Mesmo sem ser candidata (ainda), Koike está em segundo lugar na lista de favoritos para ser premiê, com apoio de 33% dos entrevista­dos, contra 45,9% que preferem Abe.

A liderança do novo partido deve transforma­r Koike em adversária política de Abe, de quem ela já foi correligio­nária no PLD e com quem mantinha um relacionam­ento cordial.

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Kim Kyung-Hoon/Reuters Yuriko Koike, governador­a de Tóquio, em evento no Clube da Imprensa Nacional Japonesa

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