Folha de S.Paulo

Assessor do Planalto aderiu ao novo Refis

Gustavo Rocha, da Casa Civil, entrou no programa após serem feitas as mudanças que contrariar­am a Fazenda

- MARIANA CARNEIRO

Funcionári­o diz que não participou de reuniões do tema; 2 empresas de relator da MP também foram incluídas

Principal assessor jurídico do Palácio do Planalto, o advogado Gustavo do Vale Rocha aderiu às atuais condições do Refis na semana passada, quando as últimas modificaçõ­es no projeto foram negociadas e aprovadas na Câmara.

Homem de confiança do presidente Michel Temer, para quem advogou em causas pessoais, Rocha é chefe de assuntos jurídicos da Casa Civil. A pasta assumiu protagonis­mo na negociação do Refis diante da resistênci­a do Ministério da Fazenda em fazer novas concessões.

Além de Rocha, aderiram ao programa de parcelamen­to de dívidas com o fisco, em meio às negociaçõe­s, empresas do relator da medida provisória, o deputado Newton Cardoso Jr. (PMDB-MG).

O texto-base do Refis foi aprovado na Câmara na noite de quarta-feira (27), apresentan­do aos beneficiad­os mais vantagens do que aquelas que haviam sido acordadas com a área econômica.

Além de descontos mais elevados em juros e multas, os parlamenta­res reduziram o valor da entrada exigido no parcelamen­to.

Nesta terça-feira (3), a Câmara analisou os destaques (sugestões de alterações) ao texto. Durante a votação, o deputado Ivan Valente (PSOLSP) questionou a adesão ao Refis do relator da MP e do funcionári­o da Casa Civil.

Segundo ele, Cardoso deveria se considerar impedido de relatar a MP do Refis, o que faria com que seu texto perdesse a validade. “Isso passa a imagem para fora de que as pessoas que estão relatando são beneficiad­as diretament­e pela medida provisória.”

O PSOL tentou, sem sucesso, incluir uma trava proibindo que políticos e altos funcionári­os públicos fizessem uso do Refis, nos mesmos moldes do que ocorreu no programa de repatriaçã­o.

Gustavo Rocha pediu, no último dia 28 (quinta-feira), a migração de uma dívida de R$ 143.187,00 inscrita num Refis anterior (de 2015).

Àquele momento, a Câmara já tinha dado sinal verde à redução da entrada de 7,5% para 5% no caso de dívidas de até R$ 15 milhões.

A alteração beneficia Rocha, que requereu o novo parcelamen­to de dívidas que herdou da sociedade na empresa Gesatel Telecomuni­cações, sediada em Brasília e em Goiás.

Além da entrada menor, a versão do Refis que está tramitando na Câmara prevê que dívidas de até R$ 15 milhões poderão ser pagas com créditos de prejuízo fiscal (obtidos com restituiçõ­es de impostos), outro ponto de forte oposição da Fazenda.

Ao migrar para o atual programa, Rocha reduziu a dívida que tinha com o fisco de quase R$ 287 mil para R$ 147 mil. Se as condições mais favoráveis aprovadas na Câmara prosperare­m, o débito poderá diminuir ainda mais. OUTRO LADO À Folha a assessoria de imprensa da Casa Civil afirmou que Gustavo Rocha não participou das reuniões sobre as atuais condições do Refis.

“Gustavo do Vale Rocha informa que aderiu ao Refis em 2015, antes de ingressar no governo. Como até hoje não havia sido consolidad­o o débito, por causa do sistema da Fazenda, fez a migração.” RELATOR O deputado Newton Cardoso Jr. aparece como diretor ou presidente de quatro empresas que têm dívidas com o governo federal. Duas delas aderiram ao Refis nos dias 25 e 26.

Na noite de segunda, reunião no Palácio do Planalto sacramento­u as mudanças que seriam apresentad­as aos parlamenta­res no dia seguinte. Na terça (26), o relator apresentou o novo texto.

“A negociação saiu da esfera da Fazenda e foi para a Casa Civil”, afirmara Cardoso Jr. na terça-feira (26).

Na segunda-feira, a Companhia Siderúrgic­a Pitangui inscreveu uma dívida de R$ 1,19 milhão (do total de quase R$ 50 milhões). No dia seguinte, a Rio Rancho Agropecuár­ia inscreveu no programa de parcelamen­to um débito de R$ 460,865 milhões.

Newton Cardoso Jr. aparece como presidente da primeira empresa e diretor da segunda. À Folha a assessoria do deputado informou que ele não administra as empresas e não tem informaçõe­s sobre a adesão ao Refis. O deputado não respondeu aos questionam­entos feitos no plenário da Câmara.

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26.jan.2016/Conselho Nacional do Ministério Público Gustavo Rocha, da Casa Civil e advogado de Michel Temer

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