Folha de S.Paulo

Presos podem ter punição leve e escapar da cadeia

- THIAGO AMÂNCIO

DE SÃO PAULO

Os suspeitos de planejarem um roubo de R$ 1 bilhão de uma base de distribuiç­ão do Banco do Brasil na zona sul de SP, presos na segunda (2), investiram R$ 4 milhões no crime e usaram equipament­o sofisticad­o e alto conhecimen­to técnico, segundo a polícia.

Entre as 16 pessoas presas havia um serralheir­o. No imóvel usado como base da quadrilha, foi encontrada uma máquina de solda e corte a plasma —geralmente utilizada para cortar aço de navio, mas que serviria para construir a estrutura de escoamento do dinheiro, com mil metros de trilho e dez carrinhos.

A polícia também suspeita da participaç­ão de um engenheiro ou mestre de obras no planejamen­to da escavação do túnel, que tem cerca de 500 metros e que liga uma residência alugada pelos bandidos ao banco.

Diz ainda diz que pode haver quatro foragidos, mas que os chefes foram pegos.

O grupo deve responder por formação de quadrilha e tentativa de furto —um suspeito pode ser acusado ainda de falsidade ideológica, por usar documento falso.

Dos 16 presos, quatro não tinham passagem pela polícia, e dois eram procurados. INVESTIGAÇ­ÕES Segundo o delegado Fábio Lopes, a polícia identifico­u um “burburinho” há três meses de que haveria uma “ação bilionária” em SP. “Como cada meio tem a sua fofoca, a sua conversa, começa-se a falar na área criminosa, às vezes um advogado, às vezes um criminoso: ‘Nossa, parece que vai ter um roubo bilionário’.”

A quadrilha foi identifica­da, e o QG do grupo foi encontrado há um mês em um galpão no extremo norte da cidade —um local antes pacato, mas que há três meses

DE SÃO PAULO

Mesmo sob uma forte suspeita de participaç­ão na tentativa de assalto em valores que chegariam a R$ 1 bilhão, a prisão dessas 16 pessoas em SP pode resultar em punição leve ou acabar sem cadeia, segundo especialis­tas ouvidos pela reportagem.

Isso porque a lei é benéfica para crimes de furto, já que são cometidos sem violência e, muitas vezes, as condenaçõe­s são substituíd­as por penas alternativ­as —como pagamento de cestas básicas ou proibição de frequentar bares durante à noite.

Quando se trata de uma tentativa de furto, a situação é mais favorável ao réu porque as penas são reduzidas de um até dois terços do tempo imposto pela Justiça.

Em caso de condenação de seis anos, por exemplo, (por ser furto qualificad­o), essa pena pode ser reduzida para até dois anos de reclusão. Assim, como quatro desses réus presos são primários, eles precisaria­m cumprir, em tese, só quatro meses.

O que pode mudar a situação dos réus é o entendimen­to do juiz se havia ali uma “organizaçã­o criminosa” ou “concurso de agentes”.

No primeiro caso, seria um grupo organizado de maneira permanente para cometer crimes. Aí a pena seria acrescida de três a oito anos de reclusão. No segundo, se uniram somente para este caso.

“Só tentativa de furto nem cadeia dá. Por isso a gente suspeita que às vezes [os policiais] dão uma salgada na classifica­ção para permitir o aprisionam­ento”, afirma o advogado criminalis­ta Alberto Zacharias Toron.

Para o advogado Augusto de Arruda Botelho, um juiz pode entender também que não se trata nem de uma tentativa de furto e, aí, seriam atos preparatór­ios —o que, pela legislação, nem se trata de crime. “Isso é polêmico. Numa primeira análise, isso tem mais cara de atos preparatór­ios do que tentativa. Vamos imaginar se eles estivessem entrando no cofre e fossem pego ali. Aí há uma figura clara de tentativa”, afirmou o advogado.

Para o procurador de Justiça Márcio Sérgio Christino, a situação desses 16 presos vai depender do entendimen­to do magistrado sobre o caso concreto e, também, do histórico dos próprios réus — que recebem penas altas em caso de reincidênc­ias.

Mesmo considerad­o todas as possibilid­ade que pesam contra os suspeitos, as penas serão pequenas. “Os caras vão ficar presos? Provavelme­nte não”, disse ele. “Toda a nossa legislação está defasada em relação à situação social em que nós vivemos.”

Segundo a Polícia Civil, a “a execução já estava quase toda pronta” o que configura uma tentativa de furto.

“Eles só não conseguira­m por circunstân­cia alheia à vontade deles. Aí quem vai decidir é a Justiça, mas a nossa parte a gente vez”, disse o delegado responsáve­l pelo caso, Fábio Pinheiro Lopes.

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Zanone Fraissat/Folhapress Túnel de 500 metros escavado até cofre do Banco do Brasil
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Rubens Cavallari/Folhapress Casa na zona norte de SP onde grupo planejava o assalto

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