ANÁLISE Láurea veio com atraso de um ano, mas era líquida e certa
Fotodetector
FOLHA
Com um ano de atraso, a Academia Real de Ciências da Suécia dá o Nobel de Física para os responsáveis pelas primeiras detecções diretas de ondas gravitacionais.
A aposta de que a descoberta dessas marolas no tecido do espaço-tempo renderia uma premiação era tão segura que todo mundo esperava que fosse acontecer no ano passado mesmo —a primeira detecção aconteceu em setembro de 2015, mas foi anunciada em fevereiro de 2016.
O prazo para indicações expirava em 31 de janeiro, mas poderia ter havido um pouco de boa vontade —optaram por deixar para 2017. Sem grande prejuízo: o fato de que essa premiação ia sair, e logo, sempre foi líquido e certo.
Afinal, se evidências indiretas de ondas gravitacionais já haviam conquistado seu próprio Nobel em 1993 (por causa da descoberta de um par de estrelas de nêutrons que estavam espiralando uma na direção da outra, encurtando suas órbitas de um modo que só poderia ser explicado pela dissipação de energia na forma de ondas gravitacionais), o que dizer de uma detecção direta?
O comitê do Nobel também se atém ao impacto das descobertas. E, nesse sentido, poucos avanços rivalizam em importância com a detecção de ondas gravitacionais.
O feito vai muito além de confirmar (mais) uma predição da Teoria da Relatividade Geral de Einstein.
Em essência, ela abre uma nova janela de observação para o Universo, que permite estudar eventos indetectáveis por outros meios, como a colisão de buracos negros a distâncias inimaginavelmente grandes, e pode até mesmo culminar com a detecção das ondas gravitacionais geradas pelo próprio Big Bang.
Partiu de Rainer Weiss, em 1972, o artigo científico que descreveu uma proposta de interferômetro a laser capaz de detectar ondas gravitacionais —base para o Ligo.
O estudo foi reconhecido por Kip Thorne, do Caltech, como um projeto factível. Coube, contudo, a Barry Barish, liderar a iniciativa de construção a partir de 1994 e levá-la até sua conclusão — ao custo de US$ 1,1 bilhão.
A aposta rendeu frutos e agora mobiliza um contingente de cientistas rumo a uma nova era na astrofísica. Na colaboração, são mais de mil pesquisadores, em cerca de 100 instituições em 18 países.