Sobreviventes
Quase excluída das eliminatórias por não ter onde jogar e salva duas vezes por gols nos acréscimos, a Síria, país devastado pela guerra civil, enfrenta a Austrália pela repescagem e está a quatro jogos da Copa
Com o jogo empatado em 0 a 0, a seleção da Síria se mandou para o ataque. A vitória sobre o Uzbequistão, em março, era imprescindível para continuar com chances de classificação. Nos acréscimos, a equipe teve um pênalti. O atacante Omar Kharbin, 23, se apresentou para cobrar.
Naquela situação decisiva, ele poderia chutar forte ou colocado. No alto ou rasteiro. Deu uma cavadinha na bola.
“Era momento em que o goleiro jamais esperaria que eu fosse fazer aquilo. Era arriscado, mas o jeito mais seguro de sair o gol”, afirmou o atacante à Folha.
A surpresa e a ousadia do artilheiro sírio das eliminatórias, com oito gols, resumem o que é a improvável campanha da seleção.
Nesta quinta (5), o time faz a partida de ida dos playoffs da Ásia para a Copa do Mundo, contra a Austrália. O confronto será em Krubong, na Malásia, às 9h30.
O jogo de volta está marcado para terça (10), em Sydney, na Austrália. Quem passar, enfrentará o 4º colocado da Concacaf, valendo vaga para o Mundial na Rússia.
A Síria é a zebra. A seleção jamais esteve em uma Copa. O adversário disputou os últimos três torneios.
Devastada pela guerra ci-
OMAR KHARBIN
Atacante da Síria Al Soma marcou e classificou a seleção.
“Agora na Síria há muitos assassinos, não apenas um ou dois. Odeio a todos eles. O que quer que aconteça, 12 milhões de sírios vão me amar e os outros 12 milhões vão querer me matar”, disse ele, em entrevista para o site da ESPN britânica.
Al Soma quis dizer não desejar ser visto como aliado de Assad, mas que recusava que seu boicote fosse interpretado como apoio a grupos terroristas que se opõem ao presidente, como o Estado Islâmico e Al-Qaeda.
“O resultado contra o Irã foi incrível pela maneira como aconteceu, com um gol no último lance. Com o passar do tempo, o time foi acreditando ser possível [ir para a Copa]”, completa Kharbin.
É inevitável que o regime tente conseguir ganhos políticos com as vitórias da seleção. Nos primeiros jogos das eliminatórias, alguns atletas deram entrevistas usando camisas com a imagem de Assad estampada, após pedido da federação.
Para os jogadores que atuam na Síria, o governo garante o pagamento do salário mínimo (R$ 230 mensais), custeia as viagens e hospedagens para os jogos. Depois de mais 360 minutos de futebol, pode ter de financiar também uma viagem à Rússia no ano que vem.
“
Queremos que falem da Síria além da guerra. Somos mais do que isso. Temos a chance de mudar essa imagem