Folha de S.Paulo

Quebra-cabeça de Tite

- TOSTÃO COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

ESTOU PESSIMISTA e otimista para o próximo ano. Pessimista e desiludido com o futuro do país em curto prazo, em razão dos prováveis candidatos à Presidênci­a da República e da estrutura política corrupta e de troca de favores. Pelo menos existe o combate à corrupção, pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, por meio da Lava Jato, que muitos querem destruir.

Há também os que investigam e combatem a corrupção no esporte, como Juca Kfouri, que lançou na terça(3) o livro “Confesso Que Perdi”. Todos nós ganhamos.

Por outro lado, estou otimista com a seleção brasileira na Copa do Mundo. A equipe está quase pronta. A maneira de jogar é parecida com a dos grandes times e seleções do mundo, embora cada seleção e continente tenha suas particular­idades. Enquanto os europeus, por estratégia e por terem grandes meio-campistas, priorizam a troca de passes e o domínio do jogo e da bola, os brasileiro­s, por terem atacantes hábeis, velozes e que gostam do confronto individual, destacam-se mais pelas jogadas e dribles em direção ao gol.

Apesar da grande importânci­a das estratégia­s e das lideranças dos treinadore­s, o que define o estilo dos times são o talento e as caracterís­ticas dos principais jogadores.

Já os times brasileiro­s praticam outro futebol. Aprenderam bem apenas a primeira parte, o posicionam­ento defensivo. Quando recuperam a bola, têm enormes dificuldad­es de trocar passes e de chegar ao gol, por falta de estratégia­s mais ousadas e, sobretudo, de talento individual. Preferem cruzar a bola na área. É mais fácil.

Tite tem ainda algumas dúvidas. Apesar da liderança e da lucidez de Renato Augusto, ele tem tido atuações discretas. Uma opção seria a entrada de Philippe Coutinho como um meia pelo centro, o que obrigaria Paulinho a ter mais cuidados defensivos e a ser o organizado­r no meio-campo, o que ele nunca foi. Contra o Chile, seria uma boa oportunida­de para testar o jovem Arthur na função de Renato Augusto, e não como um meia avançado, como algumas vezes é, equivocada­mente, escalado no Grêmio. O jogo contra a Bolívia, nesta quinta, não é partida para testes, já que mudam todos os conceitos, por causa da altitude.

No domingo, o treinador do Barcelona, Ernesto Valverde, mudou o sistema tático, poupou Iniesta e Rakitic e escalou Paulinho ao lado de Busquets, além de dois jogadores abertos, mais Messi e Suárez. Logo no início, o técnico deve ter percebido que essa não é a posição de Paulinho. Ele é uma boa opção como um terceiro no meio-campo, para chegar, com frequência, ao ataque. No segundo tempo, o treinador voltou ao sistema habitual, com um trio no meio-campo (Busquets, Iniesta e Rakitic), saindo Paulinho e Vidal, que atuava pela direita. O time voltou a brilhar. Tite deve ter visto o jogo e ficado menos animado em escalar Philippe Coutinho no lugar de Renato Augusto e recuar Paulinho como um segundo volante.

Repito, vou torcer para Messi e Cristiano Ronaldo jogarem o Mundial. Dependendo dos resultados desta quinta, a Argentina, para ir à Copa, pode precisar da vitória do Brasil sobre o Chile, na última rodada. Não tenho dúvidas de que o Brasil jogará para ganhar do Chile, seja quem for beneficiad­o ou prejudicad­o. Porém, certamente, haverá os que vão torcer para o Brasil perder e para a Argentina ficar fora.

Técnico ainda tem dúvida sobre a escalação e o posicionam­ento de Renato Augusto, Paulinho e Coutinho

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