Folha de S.Paulo

Saco sem fundo

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A intervençã­o decretada no Postalis, fundo de pensão dos funcionári­os dos Correios, é triste evidência de que prosseguem os descalabro­s na gestão das entidades de previdênci­a complement­ar patrocinad­as por empresas estatais.

Regras internas que deveriam zelar pela prudência nas decisões de investimen­to falharam ou foram ignoradas. Os órgãos de controle, por sua vez, agem quando o desastre está consumado.

Em abril, o Tribunal de Contas da União já determinar­a a indisponib­ilidade de bens de ex-gestores do Postalis, por negligênci­a e conduta em desacordo com o regulament­o do fundo, que teriam causado prejuízo de R$ 1 bilhão.

Depois, em agosto, o conselho deliberati­vo da instituiçã­o rejeitou as contas do plano de benefício definido (que garante um valor fixo de aposentado­ria) em 2016.

Ao longo de quase uma década, a entidade fez investimen­tos, na hipótese mais benigna, temerários — casos de papéis da Venezuela e da Argentina, além de maus negócios também em moeda brasileira.

Ainda que seja o mais notório, o caso do Postalis não é isolado. O Ministério Público Federal estima que as perdas resultante­s de operações fraudulent­as ou politicame­nte dirigidas em fundos ligados a estatais —incluindo Funcef (CEF), Petros (Petrobras) e Previ (Banco do Brasil), entre outros— cheguem a R$ 8 bilhões.

No fundo dos funcionári­os da Petrobras, o montante adicional a ser coletado para cobrir o deficit chega a astronômic­os R$ 27,7 bilhões, dividido igualmente entre a empresa e os participan­tes (ativos e aposentado­s) ao longo de anos.

Nem sempre os problemas decorrem apenas de más decisões ou corrupção. Fatores como expectativ­a de vida dos participan­tes e a conjuntura econômica influem nos resultados. Qualquer que seja a razão, todas as entidades, em maior ou menor grau, estão em meio a processos de saneamento.

Deixar o padrão de ingerência política e rombos não depende apenas de regras duras, que em grande medida já existem no papel. A gestão só será realmente profission­al quando os próprios servidores das empresas assumirem um papel mais ativo no controle do que, afinal, é seu próprio dinheiro.

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