Folha de S.Paulo

Crivella contra a cultura

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RIO DE JANEIRO - Ninguém que venha acompanhan­do a gestão de Marcelo Crivella há de ter se espantado com a decisão de proibir que um museu municipal, o MAR, recebesse a mostra “Queermuseu”, que havia sido banida pelo Santander após breve temporada em Porto Alegre.

Espantoso foi o tom de deboche que o prefeito usou para anunciar sua decisão, num vídeo publicado em redes sociais. “Saiu no jornal que ia ser no MAR. Hã, só se for no fundo do mar, porque, no Museu de Arte do Rio, nãããão”, disse ele, rindo e gesticulan­do como quem fala com crianças.

A censura por parte do prefeito não espanta porque é apenas mais um exemplo de sua indiferenç­a em relação à cultura, que ocasionalm­ente extrapola para o preconceit­o de cunho moral, dada sua notória religiosid­ade. Basta lembrar da antipatia dedicada ao Carnaval, que ele primeiro ignorou e, depois, tentou prejudicar, cortando a verba das escolas de samba.

Há outros marcos do desserviço que Crivella vem prestando às artes: o fim dos repasses à Orquestra Sinfônica Brasileira, que não teve temporada neste ano; a anulação do programa de fomento cultural, que deveria ter pagado R$ 25 milhões a 204 projetos; seu discurso à classe artística pouco após a posse, quando disse que os artistas “trocam sua arte por um sorriso, um sentimento, um aplauso”.

Particular­mente triste é ver Nilcemar Nogueira, neta de Cartola e de Dona Zica, manter uma postura conivente à frente da Secretaria de Cultura. Ela classifico­u o veto à exposição no MAR como uma questão de segurança, já que a mostra vem sendo alvo de manifestaç­ões violentas dos que se opõem a ela.

Secretária, imagine o que teria acontecido com o samba se pioneiros como seu avô tivessem se acovardado frente à perseguiçã­o e à violência de que foram vítimas por tanto tempo. marco.canonico@grupofolha.com.br MATIAS SPEKTOR

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