Folha de S.Paulo

O golpe de Temer

-

BRASÍLIA - Foi golpe! Quem grita agora, veja só, é o presidente Michel Temer. Depois de declarar guerra à palavra martelada pelos petistas, o peemedebis­ta resolveu reabilitá-la em causa própria. As cinco letras aparecem com destaque na defesa entregue à Câmara nesta quarta.

No documento, os advogados de Temer sustentam que o Ministério Público Federal tentou “dar um golpe e destituir o presidente da República”. É assim que a defesa descreve a denúncia que acusa o presidente de praticar dois crimes: organizaçã­o criminosa e obstrução da Justiça.

A peça recorre à tática de desqualifi­car o acusador. Autor da denúncia contra Temer, o procurador Rodrigo Janot é comparado a um “pistoleiro”. Em outro trecho, a defesa afirma que o ex-chefe da Lava Jato foi “antiético, imoral, indecente e ilegal”.

Para reforçar os ataques a Janot, os advogados reproduzem declaraçõe­s do ex-deputado Eduardo Cunha, preso e condenado a 15 anos de prisão por corrupção e lavagem de di- nheiro. Eles também citam frases do ministro Gilmar Mendes, conhecido frequentad­or do Palácio do Jaburu.

Além de sustentar que o procurador seria movido por uma “doentia obsessão”, a defesa ataca jornalista­s ao dizer que o presidente é vítima de um “torpe e infame tratamento dispensado por parte de uma imprensa irresponsá­vel e leviana”.

Os deputados que engavetara­m a primeira denúncia contra Temer são descritos com palavras mais doces. Segundo os advogados, a Câmara “não é composta por bandoleiro­s, mas por homens e mulheres que se dedicam ao atendiment­o das necessidad­es da população brasileira”.

Nesta semana, suas excelência­s voltaram a fazer fila no Palácio do Planalto. Só na terça-feira, Temer recebeu mais de 50 deputados. Eles pediram verbas, emendas e nomeações para votar a favor do governo. Um dos cargos mais cobiçados tem significad­o especial para os alvos da Lava Jato: a direção do Departamen­to Penitenciá­rio Nacional.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil