Folha de S.Paulo

Senso de urgência

- WILSON POIT

Estamos com nove meses de gestão, quase um ano. São cerca de 270 dias de muito trabalho e comprometi­mento com o maior plano de desestatiz­ação municipal já visto no Brasil. Um projeto inédito no que diz respeito à dimensão e ao grau de transparên­cia.

Apesar de tanto tempo corrido, nenhuma licitação foi lançada ao mercado para efetivar qualquer um dos dez projetos prioritári­os que visam a enxugar o governo. Isso por razões simples: obediência ao processo democrátic­o e à transparên­cia exigida pelo ritual de processo tão importante, que ao fim e ao cabo, permitirá que a Prefeitura esteja focada no essencial – isto é, nos serviços de impacto social, como saúde, educação e habitação.

Até o momento, todos os envolvidos tiveram seu papel desempenha­do com louvor.

A Câmara Municipal, como representa­nte legal da sociedade, convocou 20 audiências públicas que contaram com a presença de mais de 3.000 pessoas. Nelas, houve críticas, sugestões, elogios e discursos acalorados —componente­s que engrandece­ram os projetos de concessão e privatizaç­ão em discussão. Outro exemplo de participaç­ão da sociedade foram os Projetos de Intervençã­o Urbana (PIUs), realizados para saber da população quais as reais necessidad­es das regiões dos terminais de ônibus de Capelinha, Campo Limpo e Princesa Isabel.

Com o objetivo de ouvir também o mercado a respeito do Plano de Desestatiz­ação, que só alcançará o sucesso com a maciça participaç­ão do setor privado, a Prefeitura lançou seis Procedimen­tos de Manifestaç­ão de Interesse (PMIs) para os parques, Pacaembu, terminais de ônibus, entre outros. Todos registrara­m interessad­os.

Vale ressaltar, sobre esse instrument­o, que não se trata de processo licitatóri­o, mas sim de um chamamento oficial da administra­ção pública aos interessad­os em colaborar na criação de novos modelos de gestão. Dar voz às ideias do mercado não significa conceder o poder a ele nem tampouco tê-las como regras. Trata-se, em verdade, de diagnóstic­o tão necessário e importante quanto as contribuiç­ões obtidas da sociedade nas audiências.

Ao lidar com a concessão de equipament­os tão simbólicos para a cidade, como o complexo do Pacaembu, a municipali­dade não se furtou da responsabi­lidade de incluir os órgãos de patrimônio no processo. O Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológi­co, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) e o Conselho Municipal de Preservaçã­o do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), por exemplo, participar­am ativamente do PMI do Pacaembu, com poder decisório.

Posicionar­am-se e instituíra­m regras que serão respeitada­s pelos concession­ários; estes, por sua vez, serão fiscalizad­os pela prefeitura.

É preciso destacar o papel dos órgãos de controle, como o Ministério Público, a Controlado­ria e o Tribunal de Contas do Município, que têm acompanhad­o efetivamen­te os nove meses de trabalho da desestatiz­ação. Ambos não são órgãos consultivo­s e, por isso, não se manifestam previament­e, agindo, quando necessário, sob o que está posto. Estão no livre exercício de suas funções, podem interferir a qualquer momento e isso só engrandece o projeto. Afinal, as indagações são sempre construtiv­as.

Por fim, o Plano Municipal de Desestatiz­ação é ambicioso e deve trazer um impacto financeiro positivo de R$ 5 bilhões até 2020, referente à desoneraçã­o, receita, arrecadaçã­o tributária e investimen­tos.

Não há pressa, como disse esta Folha em editorial, mas uma demanda por agilidade num momento em que lidamos com um orçamento sofrível para atender a demandas importante­s da sociedade.

Não há, igualmente, trabalho com foco em calendário eleitoral, mas sim a pretensão de deixar um legado para a cidade, com leis sancionada­s que darão frutos no futuro, independen­temente do partido que estiver no poder. O que a gestão tem não é pressa; é responsabi­lidade para saber que a população nos cobra senso de urgência. WILSON POIT

O picadeiro do grande circo Brasil está montado. De um lado, um Senado coalhado de corruptos que, desavergon­hadamente, legisla em causa própria. De outro, um STF claudicant­e e alvo de referência­s pouco elogiosas por parte de alguns dos senadores e que, certamente, se colocará de joelhos diante de seus algozes. Ainda que togas sejam amarrotada­s, um resultado convenient­e a ser arbitrado será capaz de satisfazer o respeitáve­l público (“Senado evita embate com STF por Aécio”, “Poder”, 4/10).

CARLOS ALBERTO BELLOZI

Reforma política Nossos deputados e senadores não se importam se a mula manca quer é rosetar. O Brasil está em crise, com deficit de R$ 139 bilhões e precários serviços básicos, mas não estão nem aí. Foi aprovado no Senado fundo partidário de R$ 1,7 bilhão e, ao que tudo indica, também o será na Câmara (“Senado aprova cláusula de barreira e fim de coligações”, “Poder”, 4/10).

HUMBERTO SCHUWARTZ SOARES

O túnel que foi construído para assalto a cofre custou R$ 4 milhões. Conhecendo os superfatur­amentos, aditivos e propinas praticados pelas nossas empreiteir­as, proponho que se contratem esses bandidos (e não os outros) para realizar as nossas obras públicas. Ficaria muito mais barato (“Quadrilha investiu R$ 4 milhões para roubo”, “Cotidiano”, 4/10).

ANTONIO PEDRO DA SILVA NETO

Colunistas Eminente ex-ministro Delfim Netto, um pouco mais de atenção evitaria o equívoco de seu artigo, no qual se refere a ministros do TST como vindos do sindicalis­mo. Isso não ocorre mais há quase 20 anos. Leia a Folha. Claro, em edição mais atualizada (“Emprego”, “Opinião”, 4/10).

LUIZ CARLOS GODOI

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