Folha de S.Paulo

A nova lei de migração

Se por um lado a legislação traz avanços na acolhida a refugiados, por outro requer atenção na questão da migração para trabalho

- DIANA QUINTAS www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

A globalizaç­ão e a nova ordem econômica criaram profission­ais do mundo. Hoje é comum funcionári­os de multinacio­nais mudarem de país como antes mudavam de cidade. No Brasil, o número de imigrantes no trabalho formal aumentou 131% de 2010 a 2015. Segundo a ONU, mais de 240 milhões de pessoas estavam fora do Estado de origem em 2015, por motivos políticos, econômicos ou culturais.

É compreensí­vel e desejável que os países criem pontes em vez de muros e facilitem a circulação entre território­s, especialme­nte consideran­do o drama dos refugiados. É imprescind­ível a qualquer nação, entretanto, o desenvolvi­mento de mecanismos que tornem esse processo saudável para todos.

A migração envolve aspectos jurídicos e institucio­nais, sendo necessário definir o papel do Estado nos direitos e nos deveres dos estrangeir­os. No Brasil, a Lei de Migração (13.445/2017), promulgada em maio, tem alicerces nos direitos humanos e corrige deficiênci­as do Estatuto do Estrangeir­o, que, formulado no regime militar, via cidadãos de outros países como ameaça à segurança nacional.

A Lei de Migração entra em vigor em novembro, e até lá há pontos fundamenta­is a serem discutidos para a elaboração do decreto que a regulament­ará.

Se por um lado a nova legislação traz avanços na acolhida a refugiados, por outro requer atenção na questão da migração para trabalho.

Uma das mudanças é a criação do visto de visita, que engloba o de turismo e o de negócios. A regulament­ação definirá se será estendido para atividades temporária­s de trabalho. Permitir que estrangeir­os exerçam uma profissão sem um visto de trabalho específico tiraria do poder público o controle sobre o fluxo desses trabalhado­res, o que pode abrir lacunas nos sistemas tributário e previdenci­ário, para citar dois exemplos.

Os países mais avançados em receptivid­ade, como Canadá e Austrália, possuem rigoroso sistema de controle. Não se trata de impor barreiras, e sim de usar a informação para estabelece­r transparên­cia nas áreas trabalhist­a, previdenci­ária e fiscal. Deve-se ponderar ainda sobre a reformulaç­ão do visto tempo- rário de trabalho.

Atualmente, para trabalhar no Brasil, é necessária uma oferta formal de emprego. Pela nova regra, o estrangeir­o com curso superior ou equivalent­e não precisaria mais de uma proposta. Poderia vir inclusive para procurar emprego. Se a regulament­ação não especifica­r regras, esse visto poderá deixar ainda mais vulnerável a mão de obra local, que já sofre com desemprego.

A implementa­ção de um órgão especial, com poder normativo, que una os Ministério­s da Justiça, do Trabalho e das Relações Exteriores, poderá dirimir armadilhas e dar a celeridade necessária às demandas corporativ­as e humanitári­as. A migração é uma área naturalmen­te dinâmica, ligada a mudanças econômicas e políticas internas e externas. Impensável deixar que cada novo aspecto tenha de entrar na fila da burocracia de Brasília.

Mais do que o profission­al do mundo, o refugiado tem urgência em ser acolhido.

A regulament­ação deve tocar nesses pontos para garantir o vanguardis­mo da lei, tornando-a benéfica para estrangeir­os e brasileiro­s. DIANA QUINTAS Leis trabalhist­as Para aqueles que ainda tinham dúvida de que o governo brasileiro aprovou a reforma trabalhist­a para agradar aos investidor­es estrangeir­os, a reportagem “Reforma Trabalhist­a desanima investidos nos EUA” (“Mercado”, 3/10) acaba com qualquer desconfian­ça. As profundas mudanças que retiram direitos trabalhist­as e vendem a preço de banana a já barata mão de obra dos trabalhado­res brasileiro­s não foram suficiente­s para agradar aos investidos americanos.

FÁBIO RAMALHO

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Muito correto Marcelo Coelho (“Não é uma questão moral”, “Ilustrada”, 4/10). Que bom que houve melhora, mas o fato de o fosso social não ter se alterado é mesmo uma notícia terrível, afinal, esta é, talvez, a causa principal de nossas agruras. Só não percebe quem não quer e vira o rosto para o outro lado.

GUSTAVO A. J. AMARANTE

Criança do dia Reitero meus sinceros cumpriment­os pela iniciativa de ouvir a voz das crianças. Nesses tempos de incerteza absoluta e de unilateral­ismos canhestros, aviva-se dentro de nós a chama de um futuro diferente no que se refere ao respeito e à consideraç­ão pelo outro (“Não importa o seu time, o que vale é a amizade”, “Esporte”, 4/10).

LUIZ CARLOS VIEIRA

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