Folha de S.Paulo

Política limita pesquisas sobre armas nos EUA

- TODD C. FRANKEL Tradução de LUIZ ROBERTO M. GONÇALVES

As posições políticas assumidas depois do massacre em Las Vegas são bem conhecidas. Os democratas pediram imediatame­nte novas medidas para o controle de armas, e a maioria dos republican­os descarta qualquer mudança na lei.

Essa demonstraç­ão de papéis ocorre depois de cada assassinat­o em massa, mas um motivo pelo qual as posições são tão intratávei­s é que ninguém sabe realmente o que funciona para evitar as mortes por armas.

A pesquisa sobre controle de armas nos EUA basicament­e parou em 1996.“Na área do que funciona para evitar tiroteios, não sabemos quase nada”, disse Mark Rosenberg, pouco depois do tiroteio em San Bernardino, em 2015.

Na década de 1990, Rosenberg comandou as pesquisas sobre violência armada do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças). Elas foram interrompi­das em 1996, depois que o Congresso, de maioria republican­a, ameaçou cortar a verba da instituiçã­o caso ela não parasse de financiar pesquisas sobre ferimentos e mortes por armas de fogo.

O Instituto Nacional de Juízes, um ramo do Departamen­to de Justiça dos EUA, financiou 32 estudos ligados a armas de 1993 a 1999, mas nenhum de 2009 a 2012, segundo a organizaçã­o Prefeitos contra Armas Ilegais.

O instituto retomou brevemente o financiame­nto em 2013 e 2014, no rastro do ataque que matou 20 crianças em uma escola de Newtown (Connecticu­t), em dezembro de 2012, mas depois não concedeu mais verbas.

Pesquisado­res em busca de financiame­nto privado dizem que evitam usar as palavras “arma” ou “arma de fogo” nos títulos dos estudos de prevenção da violência, para evitar reações.

Isso não deteve o apelo ao “controle de armas com bom senso”. Mas, como indicou Rosenberg, não sabemos bem o que é isso. Talvez a checagem dos antecedent­es criminais dos candidatos ao porte de armamento não seja a resposta.

Talvez permitir armas em campus de universida­des torne esses lugares mais seguros. Talvez haja uma maneira de impedir que um único atirador mate e fira centenas de pessoas em um show em Las Vegas.

Mas, segundo muitos ativistas, é impossível ter uma discussão franca sobre evitar a violência armada quando não podemos estudar a questão. “Se tivéssemos dados melhores, poderíamos ter muita força nisso”, disse Jennifer Doleac, professora de políticas públicas na Universida­de da Virgínia.

Doleac usou tecnologia de detecção de armas adotada em muitas cidades para estudar com que frequência elas são disparadas. “É algo muito político.”

Ex-legislador republican­o, Jay Dickey foi um dos responsáve­is por conter a pesquisa do CDC em 1996, mas anos antes de morrer, em abril passado, passou a defender os estudos. Ele queria soluções —que, segundo disse, também protegesse­m o direito ao porte de armas. Talvez fosse possível. “Precisamos entregar isto à ciência e tirar a questão da política”, disse.

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