Folha de S.Paulo

Presidente catalão faz ‘apelo’ por um diálogo com Madri

Apesar de dizer que vai declarar independên­cia em breve, Carles Puigdemont abre espaço para negociação

- DIOGO BERCITO

Parlamento da Catalunha terá sessão na próxima segunda (9) que pode decidir pela separação da região

O presidente catalão, Carles Puigdemont, abriu duas frentes com seu discurso de quarta-feira (4). Ele voltou a insistir que vai declarar a independên­cia da Catalunha “nos próximos dias”, mas também se mostrou disposto ao diálogo e pediu mediação.

“Fizemos um plebiscito em meio a uma repressão sem precedente­s”, disse, em relação à consulta popular de domingo (1º), quando 90% dos eleitores escolheram se separar da Espanha (apenas 42% do eleitorado votou). Embates com a polícia deixaram quase 900 feridos.

“As aspirações do povo catalão foram tratadas como criminosas e ilegítimas. Por isso, fazemos um apelo ao diálogo”, afirmou o presidente.

Enquanto pede por negociação, no entanto, ele pode comparecer ao Parlamento catalão na segunda-feira (9) para declarar a independên­cia de maneira unilateral.

A sessão foi convocada pelas forças separatist­as Junts pel Sí (juntos pelo sim) —à qual pertence Puigdemont— e CUP (Candidatur­a de Unidade Popular). Unidas, detêm 72 das 135 cadeiras do Parlamento local.

Não está decidido ainda se a declaração de independên­cia será votada ou simplesmen­te declarada pela Casa. Puigdemont pode ser detido por Madri caso insista em declarar a independên­cia.

O governo espanhol já avisou que não vai reconhecer a separação —que também não tem apoio nem da União Europeia, nem dos principais atores globais.

Respondend­o ao rei, que na terça (3) disse que o governo catalão era “desleal”, o presidente afirmou que Felipe 6º “decepciono­u muita gente na Catalunha”. A Bolsa espanhola chegou a cair quase 3% , seu pior resultado desde o dia em que o Reino Unido decidiu deixar a União Europeia, em junho de 2016.

A baixa participaç­ão no plebiscito —causada em parte pela ação policial espanhola— será um dos argumentos para desqualifi­car a declaração de separação.

Além disso, a lei espanhola não reconhece esse tipo de consulta. Só estão previstos plebiscito­s consultivo­s, ou seja, não vinculante­s. E o voto, nesse caso, precisaria ser feito em todo o território.

O governo de Madri, chefiado pelo conservado­r PP (Partido Popular) do premiê Mariano Rajoy, conta com o apoio das principais forças políticas do país para evitar a separação da Catalunha.

O partido de centro-direita Cidadãos, por exemplo, vem insistindo nos últimos dias para que Madri acione o Artigo 155, que pode revogar temporaria­mente a autonomia catalã e impor eleições antecipada­s na região.

Aprofundan­do a crise entre Madri e Barcelona, a Audiência Nacional convocou o chefe da polícia catalã para depor na sexta-feira (6).

Josep Lluís Trapero se recusou a cumprir as ordens do Estado para impedir o plebiscito separatist­a. A Audiência Nacional é um tribunal especial com jurisdição em todo o país que cuida de casos de terrorismo e crime organizado.

 ?? Yves Herman/Reuters ?? Bar em Barcelona exibe na TV o discurso do presidente da Catalunha, Carles Puigdemont
Yves Herman/Reuters Bar em Barcelona exibe na TV o discurso do presidente da Catalunha, Carles Puigdemont
 ?? Susana Vera/Reuters ?? Homens brincam com a bandeira da Catalunha em uma rua de Barcelona, na Espanha
Susana Vera/Reuters Homens brincam com a bandeira da Catalunha em uma rua de Barcelona, na Espanha

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil