Folha de S.Paulo

Empresa russa avalia compra de Viracopos

Governo tem feito interlocuç­ão para a venda do aeroporto cuja devolução para relicitaçã­o foi anunciada em julho

- JOANA CUNHA

VTB Capital assinou um contrato de confidenci­alidade para fazer avaliação do ativo, estimado em R$ 3,8 bi

O fundo russo VTB Capital avalia a compra do aeroporto de Viracopos, em Campinas, no interior de São Paulo, que teve a devolução ao governo anunciada pelos concession­ários em julho. A interlocuç­ão dos russos tem sido feita com o governo federal. Já foi assinado um contrato de confidenci­alidade.

O VTB Capital faz parte da estatal VTB Group e tem participaç­ão no consórcio NCG, que opera o aeroporto de São Petersburg­o (Rússia) com a alemã Fraport e a grega Horizon Air Investment­s.

Os termos exatos da negociação não estão prontos, até porque ainda há indefiniçõ­es em relação à devolução do aeroporto de Campinas. Embora o desejo de devolvê-lo já esteja anunciado, por parte do consórcio que administra Viracopos, a regulament­ação ainda não está pronta.

Além disso, algumas obrigações que independem de regulament­ação não foram cumpridas no pedido de devolução feito pela concession­ária, segundo tem dito publicamen­te Tarcísio de Freitas, secretário de projetos do PPI (Programa de Parceria em Investimen­tos).

Também está sendo calculado como será o pagamento de indenizaçã­o pelo Estado ou, ao contrário, ressarcime­nto à União por saldo devedor pela concession­ária.

A ideia dos russos é se antecipar à relicitaçã­o e tentar comprar o ativo antes que ele vá a leilão com concorrênc­ia mais acirrada. Nos últimos meses, duas conversas com investidor­es interessad­os em Viracopos foram abertas.

Ao optar por comprar a participaç­ão da concession­ária antes da relicitaçã­o, os russos abririam mão da chance de ter uma outorga menor do que a que foi definida em 2012, na licitação original.

A estatal Infraero é dona de 49% do consórcio que administra o aeroporto em Campinas e sua saída viria em um segundo momento.

A transação seria semelhante à venda da participaç­ão da Odebrecht TransPort na concession­ária RioGaleão para a chinesa HNA, que ocorreu neste ano.

No caso da RioGaleão, quem negociou foi o sócio privado, a Odebrecht. A operação foi a solução encontrada para destravar o pagamento de outorgas atrasadas, um problema acentuado pela dificuldad­e da Odebrecht em obter financiame­nto após seu envolvimen­to na Lava Jato. DIFICULDAD­ES Leiloado com ágio de 160%, por R$ 3,8 bilhões, em 2012, na gestão Dilma Rousseff, Viracopos se tornou o primeiro caso de devolução de um terminal privatizad­o.

O governo vinha anunciando que Viracopos seria relicitado no novo modelo sem a participaç­ão da Infraero. As construtor­as UTC e Triunfo e a minoritári­a Egis têm, somadas, 51% do total.

Envolvida na Lava Jato, a UTC passou a enfrentar restrições de crédito. Endividada, a Infraero também não acompanhou o ritmo do investimen­to. A Triunfo ficou sobrecarre­gada, tendo de honrar compromiss­os no lugar dos sócios.

A legislação e o contrato específico de Viracopos exigem que qualquer alteração de controle seja aprovada pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Procurada, a Anac diz que ainda não recebeu nenhum pedido oficial.

O negócio é visto com otimismo pelo mercado, segundo Bruno Werneck, sócio do escritório Mattos Filho. “Mostra a atrativida­de do mercado de infraestru­tura brasileiro e é uma sinalizaçã­o para o governo continuar no processos de concessão de outros aeroportos”, diz Werneck.

Procurados, a concession­ária que administra o aeroporto, a Triunfo, a UTC e o VTB Group não comentaram.

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Dmitry Avdeev/Wikipedia Aeroporto de São Petersburg­o, na Rússia, administra­do por consórcio com o VTB Capital

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