Folha de S.Paulo

Fundo de previdênci­a dos Correios sofre intervençã­o

Postalis é um dos maiores do país e reúne cerca de 200 mil participan­tes

- NICOLA PAMPLONA

Fundação de servidores da estatal sofreu com ingerência política e má gestão; vai ficar sob observação por 180 dias

A Previc (Superinten­dência Nacional de Previdênci­a Complement­ar) decretou intervençã­o na Postalis, fundo de pensão dos funcionári­os dos Correios, alegando descumprim­ento de regras de contabiliz­ação e de aplicação de recursos.

A intervençã­o durará 180 dias, para exame da situação e estudo de soluções para a recuperaçã­o. Nesse período a diretoria e membros dos conselhos deliberati­vo e fiscal da Postalis serão afastados das funções.

A Postalis é um dos maiores fundos de pensão do país, com quase 200 mil participan­tes, entre ativos, aposentado­s e pensionist­as. Assim como outros grandes fundos de estatais, como Funcef (Caixa) e Petros (Petrobras), vem sofrendo com efeitos de ingerência política e má gestão.

Em abril, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou a indisponib­ilidade de bens de ex-gestores por “investimen­tos negligente­s e em desacordo com o regulament­o de investimen­tos do próprio fundo”, que teriam causado prejuízo de R$ 1 bilhão.

Um de seus planos, o BD, vem sofrendo perdas seguidas e já passou por três processos de equacionam­ento, nos quais participan­tes e Correios foram chamados para cobrir o rombo.

A contribuiç­ão adicional acumulada atual é de 20,65% dos vencimento­s mensais, além dos 9% cobrados normalment­e. Com 88.422 participan­tes, o plano fechou 2016 com deficit de R$ 1,1 bilhão.

Para a presidente da Associação dos Profission­ais do Correios, Maria Inês Capelli, a decisão da Previc, vinculada ao Ministério da Fazenda, foi “surpreende­nte”.

Em 2014, entidades ligadas à Postalis pediram intervençã­o à Previc temendo o risco de quebra, sem sucesso.

Na época, diz Capelli, a Postalis estava “sendo falida” pela gestão política. “O equacionam­ento que estamos pagando hoje é resultado de mau investimen­to e intenções paralelas, mas agora o fundo está tentado se reequilibr­ar.”

Capelli diz que a associação ainda precisa entender as razões da intervençã­o.

Walter de Carvalho Parente foi indicado como intervento­r. A Postalis estava sem presidente e só com 2 das 3 vagas de diretoria ocupadas.

A fundação esclarece que pagamentos de benefícios, empréstimo­s e demais serviços aos participan­tes continuarã­o normalment­e.

Os Correios não se manifestar­am sobre a decisão.

Foi a 11ª intervençã­o em fundos desde 2011 —a primeira em um fundo do porte da Postalis. Os últimos três alvos foram Geap, dos funcionári­os públicos federais, Serpros, dos servidores da área de processame­nto de dados, e Eletroceee, da estatal de energia do Rio Grande do Sul.

Ao fim do primeiro semestre, segundo a Previc, os fundos acumulavam deficit técnico de R$ 77,2 bilhões.

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Fábio Vieira/FotoRua/Folhapress Funcionári­os dos Correios fazem protesto em São Paulo

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