Folha de S.Paulo

Juros altos são “pornografi­a econômica”, diz BNDES

- MARIANA CARNEIRO FLAVIA LIMA

DE BRASÍLIA

Incluído na última hora na medida provisória do Refis, o perdão de dívidas tributária­s de igrejas poderá ser excluído do texto durante a votação do Senado.

O senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), relator da MP na Casa, afirmou nesta quarta (4) que pretende excluir o benefício do programa de parcelamen­to de dívidas com o fisco. A ideia é propor aos líderes partidário­s a aprovação de um “requerimen­to de impugnação” das emendas que tratam do tema e que foram incluídas na votação na Câmara na noite de terça (3).

A manobra, segundo Ataídes, evitaria que o texto tivesse que retornar à Câmara para segunda votação, o que inviabiliz­aria a MP do Refis. O prazo para a conclusão da votação se esgota na quarta (11).

Ataídes disse que o perdão de dívidas, inclusive débitos com a Previdênci­a, “é um crime” e ameaçou não ler o relatório se os colegas não aceitarem a retirada das emendas. “É muito grave, vou pedir a exclusão das emendas por se tratar de matéria estranha à medida provisória.”

Ele deu sinal verde, porém, às outras modificaçõ­es incluídas na votação da Câmara, como o desconto de 100% dos honorários que incidem sobre a dívida renegociad­a e que são repassados a procurador­es e auditores fiscais.

Ele tampouco demonstrou discordânc­ia com a mudança no Carf (Conselho Administra­tivo de Recursos Fiscais) que dá ao contribuin­te vantagem no voto de desempate em disputas tributária­s.

Outra emenda ao texto original que o senador demonstra aprovação é a inclusão das empresas do Simples no Refis. “Se alguém tem que ter as dívidas perdoadas, essas são as pequenas empresas.”

A inclusão, porém, é polêmica. Deputados aliados do governo, durante a votação na Câmara, afirmavam que se tratava de tema inconstitu­cional, pois o parcelamen­to não poderia ser feito por meio de medida provisória.

Ataídes afirmou que o Senado está empenhado em aprovar o Refis antes que a MP perca validade. Na área econômica, porém, a torcida é que a medida provisória caduque, mantendo os parâmetros propostos pelo governo, com condições menos vantajosas aos devedores.

Boa parte dos parlamenta­res, porém, tem interesse no Refis, pois possuem empresas com dívidas com o fisco.

Como mostrou a Folha, empresas do relator da MP na Câmara, Newton Cardoso Jr. (PMDB-MG), além do chefe jurídico da Casa Civil, Gustavo do Vale Rocha, aderiram ao Refis na semana passada.

Ataídes afirmou que tem duas empresas com dívidas tributária­s, administra­das por seu filho. Admite que o programa será benéfico para suas empresas, mas disse que isso não afetará sua disposição em deixar a MP caducar se não houver acordo sobre a retirada do perdão às igrejas.

O presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), informou que pretende votar o Refis ainda nesta quinta (5).

O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico), Paulo Rabello de Castro, disse nesta quarta (4) considerar “improvável” a antecipaçã­o dos R$ 130 bilhões requeridos pelo governo em 2018.

Segundo ele, o banco precisa de tempo para substituir suas fontes de financiame­nto. “A viúva [o governo] nem começou a gastar e já quer se equilibrar. O BNDES não tem tanto cheque assim”, disse ele, em São Paulo.

Rabello de Castro criticou o novo teto de gastos, os juros altos, que classifico­u de “pornografi­a econômica”, e o grupo de economista­s que apoiam a redução do tamanho do banco de fomento.

“Queremos mais moralidade no Brasil? Comecemos pelos juros. Às vezes a imoralidad­e veste terno e gravata.”

Ao falar sobre o teto de gastos, disse que a rubrica “investimen­tos” deveria ser obrigatóri­a no Orçamento e todas as demais, incluindo a “Previdênci­a e o salário de desembarga­dores”, contingent­es.

O discurso mais duro, no entanto, não estaria ligado à filiação ao PSC (Partido Social Cristão), anunciada na terça (3). “Sou candidato a fazer o melhor possível no BNDES”.

O economista disse que escolheu o PSC porque o partido “está mais perto de Jesus”. PARABÉNS “Tem economista­s da ‘meia-entrada’ que comemoram que o banco está encolhendo. Em breve, encolherá a ponto de não ser mais perceptíve­l. Muito bem, parabéns”, disse, em tom irônico.

Ele se referiu ao termo usado pelos economista­s Marcos Lisboa e Zeina Latif em crítica aos subsídios econômicos, como os juros mais baixos do BNDES, especialme­nte a grandes empresas.

Nos últimos anos, foram emprestado­s cerca de R$ 500 bilhões ao BNDES, que antecipa o montante aos poucos.

Além de R$ 50 bilhões a ser devolvido neste ano, o governo conta com R$ 130 bilhões em 2018 para cumprir a “regra de ouro”, que impede que o governo se endivide para pagar despesas de custeio, como salários. Os recursos devolvidos evitariam que a regra fosse descumprid­a.

 ?? Ueslei Marcelino/Reuters ?? » ENFIM JUNTOS O presidente Michel Temer durante cerimônia no Palácio do Planalto para pequenas e médias empresas; segundo ele, a reforma trabalhist­a aprovada pelo governo está unificando trabalhado­res e empresário­s
Ueslei Marcelino/Reuters » ENFIM JUNTOS O presidente Michel Temer durante cerimônia no Palácio do Planalto para pequenas e médias empresas; segundo ele, a reforma trabalhist­a aprovada pelo governo está unificando trabalhado­res e empresário­s

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil